Sou filho de um comunista e de uma Filha de Maria. Meu pai além de comunista era espírita. Resultado: nem virei comunista, nem espírita e nem católico. Mas assimilei muito de positivo dos três.

Durante a minha adolescência conheci vários comunistas e socialistas. Dois deles até hoje admiro, os saudosos Gregório Bezerra e Francisco Julião. Gregório foi a pessoa mais terna e educada que conheci na política. E o mais carismático e culto foi Julião. Os dois não se davam bem. Gregório dizia que Julião era divisionista e Julião afirmava que Gregório era sectário e só fazia o que o comitê central do PCB ordenava.

Votei pela primeira vez em 1962, para governador em Arraes e para deputado federal não votei no candidato dos comunistas, mas em Julião. A minha patota era fascinada pela Revolução Cubana e Julião era quem mais encarnava os revolucionários de Sierra Maestra. Lembro que slogan de sua campanha era Reforma Agrária na Lei ou na marra. Tínhamos certeza que Julião teria 100 votos na cidade, a gente fez até a relação. Mas só teve 99. Motivo: minha irmã, a que me chama de nego do beição, deu a luz no dia da eleição não pode votar. Depois do exílio Julião deu uma farrapada, apoiou um usineiro. Mas nunca deixei de lembrar a sua ação em favor dos camponeses. Era um esquerdista culto, professor, advogado, grande orador e escritor.

Votei em Gregório para deputado federal em 1982. Infelizmente não foi eleito. Mas lembro demais dele. Lembro até de uma frase dele numa entrevista quando estava exilado em Moscou. Um repórter lhe perguntou o que ele mais sentia saudades. Ele respondeu: - Tenho saudade de comer jaca. Bingo. Inté.