18/04/2024  12h31
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
13/11/2019 - 06h39
Quando o muro caiu
Daniel Medeiros
 

O Brasil se preparava para o segundo turno das eleições presidenciais, entre o metalúrgico socialista Luís Inácio Lula da Silva e a incógnita liberal salvacionista Fernando Collor de Melo, quando a televisão anunciou a queda do muro de Berlim. Era o dia 9 de novembro e o jornalista Pedro Bial, em cima do muro cercado de gente eufórica comemorando o fim da parede de concreto e da divisão simbólica que separava o “paraíso” comunista do “inferno” capitalista, dizia: “vejo a história acontecendo diante dos meus olhos”. No entanto, as pessoas que queriam romper o muro, fazer desaparecer o muro, apagar o muro, (mas não esquecer do muro), não viam nada disso como a vitória do capitalismo, mas como a vitória da liberdade contra a violência brutal e desumana do totalitarismo. Mesmo assim, os capitalistas comemoraram como se fosse por eles (e para eles) que o muro caiu. Há trinta anos.

Hoje, diante dos recordes de desigualdade social, nada do que vemos permite dizer que foi isso que realmente aconteceu. Da mesma forma que a vitória das ideias de Collor não sobreviveram a uma investigação do Congresso, a queda do muro só foi capaz de trazer novas perguntas ao mundo. E agora, sem muro, o que fazer para que a grande praça pública abrigue a todos, atenda a todos com o mínimo de dignidade? Pois é sabido que os países chamados de comunistas proporcionavam o mínimo de bens, embora seja óbvio que pão é fundamental para a fome mas a fome de ninguém acaba com o pão. Continua com a vontade de criar, expressar-se, viajar, maravilhar-se, discursar, inventar, criticar, manifestar, ou mesmo ficar quieto em seu canto. Acontece que sem o pão, com a barriga roncando, e sem saúde, com o corpo todo doendo, aí as outras fomes se calam. O desafio do mundo é o da liberdade com garantias mínimas de uma vida digna. E nesse aspecto há ainda muitos muros levantados, muros verdadeiros como os da Cisjordânia e da fronteira do México, muros invisíveis como os que separam a pobreza da cidadania, a cidadania dos serviços públicos, os talentos da boa escola, os gênios do apoio, os cientistas de verbas e as minorias de reconhecimento.

Há trinta anos, o muro de Berlim caiu e um intelectual norte-americano, Francis Fukuyama, disse que a História havia terminado, que não haveria mais conflitos capazes de transformar o mundo e que, "agora", navegaríamos em um mar de economias liberais contínuas, uma marolinha aqui, uma chuva mais forte ali, mas todos os barcos teriam como destino os mesmos portos. E trinta anos depois, nenhuma paisagem é mais conhecida do que a do mar revolto da economia mundial, da ascensão dos governos nacionalistas, dos discursos autoritários contra imigrantes fugidos das guerras em seus países - guerras alimentadas pelas políticas armamentistas das mesmas nações que tentam evitar a entrada dos fugitivos. Também há fortes ventos no comércio, com novas medidas protecionistas, sobretaxas, acordos bilaterais, guerra comercial. Tudo aquilo que o capitalismo negava e pregava ser coisa do outro lado do muro. Mas o muro caiu. Mas o muro não caiu. Ou são as pedras do muro caído ainda a atravancar o caminho.


Nota do Editor: Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor de História no Curso Positivo.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.