Naquela entrevista dada em Paris, Lula declarou que em decorrência da sua nova atividade as suas ligações, atribuições e responsabilidades para com o PT estavam longe das suas preocupações diárias, e que, conseqüência disso também, a qualidade do partido havia caído dado ao grande número de militantes que foram absorvidos pelas novas funções administrativas do país. Foi a primeira vez que Lula declarou publicamente que não tem nada a ver com o mar de lama que está invadindo o seu partido. Não entendi o por que de uma entrevista exclusiva ser em Paris, ser exclusiva para uma repórter desconhecida no Brasil, com trejeitos de colunista social a serviço da high society querendo entender e explicar o grave momento que o país atravessa. A repórter era tão fraquinha que iniciou a entrevista com um estranhíssimo "você", depois senhor, depois senhor presidente, tudo entremeado por alguns Vossa Excelência. Imagino que se o Lula pretendesse acalmar o país daria uma entrevista dessas para um repórter do tipo do Boris Casoy. Do jeito que foi feita com aquele cenário e aquela repórter, não passou de propaganda turística. Sendo feita antes de agosto, o nosso fatídico mês, me deixa mais preocupado ainda. Se o Lula mostrou-se vazio numa entrevista exclusiva, quando junta a claque sindicalista para ouvi-lo é nitroglicerina pura. Esta semana, num desses discursos inflamados pela claque da Petrobrás Lula me lembrou ditadores do tipo Idi Amim Dada, Fidel Castro e Hugo Chaves quando declarou com todas as letras que ainda não nasceu neste país alguém para discutir ética com ele. Esse tom messiânico é próprio dos salvadores da pátria nas vésperas de regimes de exceção. Quando ouvi o Lula falando isso olhei para o meu filho de nove anos. Uma afirmação daquele tipo coloca no lixo todo o Poder Judiciário, todo o Poder Legislativo, todas as Forças Armadas e por fim, todos os que nascerem até surgir alguém que tenha competência para discutir ética com o Luiz Inácio. Lula meteu o pé na jaca, ao se confrontar com todos os outros poderes constituídos e ele não tem esse direito. Ele expôs ao risco a nossa democracia. Ao colocar a presidência tão isolada de todos os outros poderes ele se expõe a uma resposta à altura ou está abrindo caminho para a construção de uma ditadura. Essa crise que estamos vivendo vai estabelecendo paralelos com crises que vivemos no passado. Desde Jânio e Jango culminada no golpe de 1964 até Collor e seu impeachment. Lula está escrevendo do mesmo jeito, está se isolando no cargo para se expor ao sacrifício ou para determinar um novo regime de exceção. O Lula não é democrata, dentro dele existe um ditadorzinho desesperado para nascer. Até entendo que ele despreze os estudos e os diplomas, que ele considere a classe produtiva e pagadora de impostos como simples bundões. Não aceito que nos chame, a todos, de venais e que coloque em risco a nossa democracia. Ao que tudo indica, Lula não se conforma em ocupar um alto posto e mesmo assim continuar subordinado a um patrão, o povo brasileiro. Alguém precisa avisar o nosso presidente, Deus é brasileiro, mas ele não se chama Lula.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
|