Um amigo meu sempre me diz que todo metido a perfeccionista é um chato de galochas. Ele cita um exemplo respeitável: ele próprio. É verdade, o cara é mesmo metido a perfeccionista em tudo que faz, mas tem uma virtude, reconhece que é chato e, mais, que é missão impossível ser perfeito, e que a mania de tentar torna a pessoa antipática e, em alguns casos repulsiva, isso quando tira onda de bambambão em compotas. Esse amigo consciente do problema já consultou analistas, mas os resultados não foram alentadores, mas ele continua em tratamento. Confesso que sou o maior suspeito para falar sobre esse assunto porque sou por natureza um relapso, avesso às normas, etiquetas, aos ditames da elegância, às boas maneiras, ao uso correto do português escorreito e a todo ritual do que é ser um cara formal, educado demais e que gosta de fazer tudo correto... Sou completamente descompromissado com qualquer esforço para ser certinho. Sou antissocial crônico e rebelde de berço, um matuto irreversível, um, admito, bicho do mato. Mas respeito os metidos perfeccionistas, desde que eles não interfiram e nem façam reparos à minha maneira de ser. É o caso desse amigo metido a perfeccionista. Ele me respeita como eu sou, e eu respeito a mania de perfeccionismo dele, mesmo achando que é babaquice. Ele tem o direito também de achar que meu jeito de ser é permeado pela grossura. A vida é assim. Há os que metem na cabeça a danada da mania de perfeição e são radicais. São os perfeccionistas em compotas. Há alguns que são insuportáveis e indefecáveis porque insistem que os outros adquiram sua mania besta. São os amostrados que tiram onda de pregadores e oráculos do perfeccionismo, só eles são inteligentes, cultos, notáveis. Querem na marra ser considerados iluminados. Mas são apenas uns babacas e otários. Uns chatos de galocha. Vejam o que disse Alfred de Musset: "O perfeccionismo não existe. Entender isso constitui o triunfo da inteligência humana. A expectativa de alcançá-lo é o tipo de loucura mais perigosa". Mas Fernando Pessoa, no meu entender, foi mais preciso em rasgar a fantasia dos perfeccionistas em compotas: "Adoramos a perfeição porque não a podemos ter, repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito". Não dá suportar os metidos perfeccionistas amostrados e chatos de galochas. Inté.
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