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Crônicas
20/07/2018 - 06h58
Ferir por ferir
Rangel Alves da Costa
 

O mundo está cheio de covardias. Todas as pombas brancas simbolizando a paz já foram feridas de morte e desde muito lançadas em poças ensanguentadas. Será sempre hipocrisia pregar a concórdia e depois lançar ódios e violências.

Ferir por ferir. Eis a prática humana mais corriqueira. O sadismo da violência não estava somente na chibata sangrando o corpo negro, mas continua voraz em todos os tipos de violência, seja proveniente da autoridade, do policial ou da pessoa comum.

Ferir por ferir, apenas isso. Quando um se imagina superior ao outro, então logo o escraviza. Acreditem, mas ainda há gente que pensa que pode usar a sola dos sapatos para esmagar pessoas ou sua caneta para dar rumo aos destinos humanos.

Será que há sentimento de uma época distante espelhando ainda a escravização, a submissão, o mando doentio? Será que o homem de hoje ainda não desapartou da crença do poder como meio de apenas oprimir, ferir e escravizar?

A ferida é aberta e sangra, e quando aberta logo o lamento, logo a palavra de repúdio e de revolta. Contudo, nem a marca é cicatrizada e novamente o lanho, o corte, a agressão, por cima da mesma ferida anteriormente chorada. E assim numa eternidade de cicatrizes que jamais se fecham.

Veja que ideia genial a do homem, vejam que uso o homem dá ao seu poder de realização: premedita um atentado para matar dezenas, centenas ou até milhares de pessoas. Não só premedita como coloca em prática sua obsessão doentia pela violência. É o instinto do mal nos seus mais perversos açoites.

Será que há insanidade em todo aquele que pratica violência gratuita, que provoca perdas irreparáveis, que fulmina de morte uma dezena de pessoas? Logicamente que não. Apenas a maldade se expressando na sua forma mais cruel do atingir: a sede cega de destruir, de matar, de dizimar.

É um ferir por ferir, e simplesmente ferir, como se a vida humana, a do outro, a da vítima, fosse um verdadeiro nada. O algoz levanta a espada e desce sobre o pescoço, o feitor levanta a chibata e a desce com força no lombo negro, o inocente é levado ao paredão e fuzilado. E tudo isso na maior normalidade do mundo. Mas isso é normal da vida, é normal do ser humano?

Não deveria ser, mas sempre foi e cada dia se torna mais requintado o uso da violência. Fere por que ferir e está acabado, deve ser assim que se imagina. Mata por matar e tudo está resolvido, deve ser assim que se pretende. É a mera banalização da vida, o brinquedo que se pretende ter na vida humana.

Perante muitos, o ser humano é apenas uma barata que deve ser pisoteada. Para muitos, a vida humana nada mais que algo reciclável que num instante é jogada fora. Para grande parte das pessoas, tanto faz que a ação cause dor, sofrimento, que mate, pois sempre importa mesmo acionar o brinquedo da destruição.

Mas não é ferir apenas com a arma, o punhal ou outro artefato, mas também pela palavra, pela arrogância, pelo autoritarismo. Tão afiado quanto o punhal é a arma do mando, do poder, da política, da chefia, da gerência, do cargo, do poder delegado.

Tudo é ferir por ferir. E nesta relação, aquele que fere apenas vê o outro, a vítima, como sua antítese. Ele pode tudo e o outro nada. Inclusive viver. Este, que sequer pode viver perante a sanha do outro, é aquele mesmo que já quase não vive temendo as consequências da violência. E desta acaba sendo vítima.


Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).

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