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Brasil
14/05/2004 - 09h08
A contribuição do negro para São Paulo
 
 
Além de trabalharem como escravos na época do Brasil colônia, a população negra produziu grande parte do café em São Paulo, produto que consolidou a industrialização do Estado. Os negros também implantaram a estrada de ferro no Interior paulista.

Falar sobre a contribuição dos negros para o crescimento de São Paulo exige um mergulho na história do Brasil. Vindos para cá como escravos, em 1530, eles permaneceram nesta situação até 1888, quando ocorreu a abolição da escravatura, ou seja, ficaram nesta condição durante 358 anos.

Trabalharam intensamente na produção de cana-de-açúcar, que na passagem do século XVIII para o XIX foi substituída pelas plantações do café. A força escrava também foi usada para a extração de ouro e diamantes nas regiões de Goiás, Mato Grosso e em Minas Gerais, na época do Brasil Colonial, e em diversas outras áreas. Durante três séculos e meio, a população negra não só ajudou a construir o Brasil, como fincou os alicerces econômicos para a industrialização, sobretudo no Estado de São Paulo, cujo grande impulso industrial ocorreu com a produção e comercialização do café, que ajudaram o Estado a acumular um grande volume de capital, principalmente no Vale do Paraíba.

Nos séculos XIX e XX São Paulo torna-se o maior produtor de café do mundo, o que ajuda a equilibrar a balança comercial brasileira durante muito tempo. "O capital usado para construir as indústrias veio do café, que foi plantado e colhido pelos braços dos escravos negros. Nos últimos anos da escravidão, a população negra trabalhava em semanas inteiras, sem sábados e sem domingos, chegando a 16 horas por dia no Vale do Paraíba. Os barões do café faziam isto porque sabiam que a escravidão estava com os anos contados, por isso maximizavam a produção, às custas do árduo trabalho escravo. Quando os imigrantes aqui chegaram, principalmente os italianos, já encontraram tudo consolidado", conta o professor universitário Hélio Santos, mestre em Finanças e doutor em Administração pela Faculdade e Economia da USP, também autor do livro "A Busca de Um Caminho para o Brasil".

Todos os imigrantes que começaram a chegar no País em meados do século XIX contribuíram para o crescimento de São Paulo "mas os negros foram os que colaboraram durante mais tempo, sem nada receber. E os italianos, quando os substituem nas lavouras, passam a ser assalariados". Somando-se a isso, o processo de imigração tinha também um cunho de branqueamento da população brasileira. A ideologia dominante da época acreditava que o desenvolvimento e modernização da sociedade seria produto do crescimento da população branca em detrimento dos negros e índios.

Em 1824, dois anos após a Proclamação da Independência, na cidade de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, os alemães tiveram direito às terras e exigiram que nas escolas se continuasse a ensinar o alemão. "Para o Brasil foi fundamental a vinda dos alemães. Olha a riqueza que há lá", atenta Santos, observando que o Estado tirou dinheiro do orçamento e investiu nessa colônia. "No passado, houve políticas que beneficiaram grupos étnicos que não eram negros. Eram italianos, japoneses, alemães, suíços. É por isso que, em grande parte, os descendentes destes grupos hoje estão bem. Pois a situação de quem veio como imigrante é totalmente diferente daquele que veio escravizada. Esta visível e gritante desigualdade contribui para que tenhamos dois brasis", afirma Hélio Santos.

O dia seguinte ao 13 de maio

Para onde foram os negros após a libertação da escravatura? Qual foi a política habitacional para que eles pudessem morar em casas decentes? Qual foi a política para absorvê-los no mercado de trabalho? Estas questões, muito freqüentes, são resultados da atual situação vivida hoje em grande parte pelos negros no Brasil.

Havia um estigma na sociedade brasileira porque mesmo após a abolição, o negro estava associado ao trabalho escravo e não conseguia ocupar um melhor espaço no mercado de trabalho, por falta de oportunidade, decorrente de sua cor.

"Os negros disputavam vagas com os espanhóis e italianos, também analfabetos, para trabalharem como forneiros em padarias e fazer serviço pesado como rachar lenha, mas não conseguiam a vaga porque o trabalho livre era reservado para os brancos, apesar da abolição da escravatura. Nem mesmo o trabalho pesado sobrou para os negros, que foram entregues à própria sorte", ressalta Santos.

As mulheres negras continuaram fazendo trabalhos serviçais, como lavadeiras, copeiras, empregadas, que na época nunca faltou, com salários diminutos. "Se hoje as empregadas domésticas não têm todos os seus direitos, imagine então há cem anos?", questiona.

Mas foi este trabalho que permitiu à mulher negra manter sua prole e contribuiu para que não houvesse a absoluta desintegração das famílias negras, porque o homem negro estava na periferia da cidade, descalço, em alguns casos bebendo - devido à depressão - e cometendo pequenos delitos, justifica o professor da USP.

Estrada de ferro

A contribuição do negro para o crescimento da economia paulista também se faz presente na construção das estradas de ferro que transportavam o café entre outros produtos para o Porto de Santos. "Por onde a ferrovia passou, você tinha uma pequena classe média negra. Este trabalho, que era permanente, permitia ao negro ter um salário mediano fixo, relembra Santos. Era um serviço para qual o negro estava apto, exigia pouca escolaridade e muita força para escavar a terra e implantar os trilhos. Este serviço fixo e rentável permitia ao negro ter sua casa própria e morar em bairros medianos.

As famílias negras, cujos pais ou avôs trabalharam como foguista e maquinista, apresentaram mobilidade social: o filho foi ser professor, bancário, outros conseguiram ser advogados, médicos o que ajudou a família a não se desestruturar.

Como ex-presidente do Conselho Estadual da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, Hélio Santos percorreu várias cidades do Interior paulista, como Araraquara, Ribeirão Preto e Campinas, para constatar a marca do trabalho negro e conhecer de perto a história de tantas famílias negras anônimas, cujos rostos e mãos fincados pelo tempo ajudaram a construir o País.

3,3 milhões de negros vivem no Estado paulista

Muito embora um terço da população do Estado seja constituída por 3,3 milhões de negros e pardos, não encontramos a marca do povo negro consolidada em espaços expressivos como clubes e bairros, como ocorrem com japoneses, libaneses, italianos, turcos, espanhóis. "Mas ele está construindo São Paulo e no passado fez o alicerce. Você não tem nenhum prédio que não tenha sido construído por negro", aponta o economista.

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