Não se pode esconder a mágoa, ela marca qualquer um com um ferrete. Quem sente mágoa não consegue disfarçá-la. A mágoa maltrata, entristece, causa desalento. Mas a mágoa não é ódio. Pode ser meio caminho andado, mas, repito, não é ódio. É ressentimento, mas não chega a ser o danado do ódio. Não é uma raiva avassaladora e nem incita à vingança, ao troco, à forra. A mágoa é mais uma decepção. Uma grande decepção que sentimos ao constatar um ato de omissão, covardia, desatenção e falta de solidariedade praticado por alguém em quem depositávamos inteira confiança. A mágoa pode ser causada por uma atitude de fraqueza ou medo de um amigo, parente, companheiro de trabalho e etc. e tal e coisa. A mágoa é sempre causada por pessoas que gostamos, por isso é dolorido o seu efeito. São essas pessoas mais chegadas que nos causam decepções que nos levam ao sentimento da mágoa. Exemplo, quando vivemos um grande problema, eles desaparecem, se invulgam, fogem, se omitem... Isso gera a mágoa, saber que essas pessoas eram covardes e não tinham por nós a amizade que nos penávamos ... Dói paca. O agente da mágoa é, não raro, um infeliz e recalcado. Assim define Simone Weil: "Magoar alguém é transferir para outrem a degradação que temos em nós". Exato, quem magoa é um ser degradado. Mas a verdade é que a magoa nos deixa em estado de desalento, meio perdidos. Shakespeare tinha razão: "A mágoa altera as estações e as horas de repouso, fazendo da noite dia e do dia noite". Exato. A gente fica meio grogue. Sei que a mágoa não é o ódio, não gera esse danado, mas não consigo mais conviver bem com quem me magoa, não tem jeito, sou alguém incapaz de perdoar, relevar, aceitar a fraqueza, o medo, a falta que gera atos miúdos e covardes. Quando alguém me magoa eu lembro o verso do Chico: "Por favor deixe em paz meu coração / que é um pote até aqui de mágoa / e qualquer desatenção / faça não, pode ser a gota d'água". A mim ninguém magoa duas vezes. Juro. Inté.
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