Eu conheço e, acredito, você também: gente que gosta de problemas e não consegue viver sem eles. É claro que os problemas existem e fazem parte de nossas vivências, mas não estou me referindo aos verdadeiros, sobre os quais nada podemos fazer além de lidar com eles. Refiro-me a inventar os desnecessários que tornam um inferno a própria vida e também a dos que estão ao redor. Para os criadores de problemas, viver sem eles é muito difícil, humanamente impossível. E sabe por quê? Porque não concebem nada melhor para colocar no lugar desses percalços inventados. Funcionam como uma distração, uma forma, mesmo infeliz, de passar o tempo. É um tipo de ocupação com alguma adrenalina, sem a qual a vida lhes parece insossa. Mas basta que um seja resolvido para que surja outro. E assim sucessivamente. Uma tristeza sem fim. Sem essa vida periférica movida a problemas, o indivíduo vai ter de se deparar consigo mesmo, ou seja, com o próprio vazio. Em seu centro, não há nada. Por isso, considera melhor gastar energia com superficialidades e dificuldades criadas em interminável sequência. Deparar-se com o centro vazio é angustiante, no primeiro momento. Sempre que isso acontece, a tendência é buscar alívio para a dor. E esse alívio está na periferia da vida, onde os problemas se multiplicam à semelhança de ervas daninhas. Ou seja: as pessoas preferem ser infelizes a enfrentar a realidade de seu próprio vazio. Todas as vezes em que tentam fazer contato com o seu centro, elas sentem medo. O vazio amedronta, de fato. É como um mergulho ao fundo do mar. Lá, a calma e o silêncio parecem ser insuportáveis, e o ímpeto é retornar logo à superfície, mesmo com todas tormentas que nela existem. O problema dos problemas é que essa vida infértil afeta outras, também vazias, gerando um cortejo humano trágico, capaz de gerar a impressão de que a vida é assim mesmo: uma sequência interminável de problemas. Ocupadas com esse martírio, as pessoas não conseguem preencher o seu centro com algo que possa tornar a vida mais fecunda: um propósito. Somente um propósito pode transformar o “ter algo para fazer” em “fazer algo que valha a pena”. Como você tem vivido? Valorizando adversidades e transformando-as em grandes problemas ou caminhando rumo à realização de propósitos interessantes? Fazer algo que valha verdadeiramente a pena é que torna a vida uma aventura fértil, que instiga, revigora, ensina, fortalece e isenta de sofrimentos desnecessários. Nota do Editor: Roberto Tranjan é empresário, educador, conferencista, consultor e escritor. Formado em Economia e pós-graduado em Administração de Empresas pela Eaesp/FGV, desenvolveu a abordagem sistêmica CMA, em que a empresa é vista como um organismo vivo dotado de mente, corpo e alma, e o modelo de gestão Metanoia. Sua obra mais recente é “O velho e o menino”, lançamento da Buzz Editora.
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