Sem Fôlego, dirigido por Todd Haynes, talvez seja um daqueles filmes em que a tradução do título para o português não tenha sido feliz. O filme vai muito além desta ideia que emoções fortes deixam o personagem, ou ainda o público, com falta de ar. O título original, Wonderstruck, que significa “atingido por algo surpreendente”, conta a história de Ben (Oakes Fegley), uma criança atingida por um relâmpago e que perde a audição. O filme então não se torna apenas um poema forte e visual, mas também um dos filmes que mais exploram o sentido da visão para aqueles que não podem ouvir. É um dos raros longa-metragem que faz com que conhecedores da língua dos sinais entendam a história de maneira mais completa do que aqueles que prestam a atenção aos sons. O filme começa com um efeito muito interessante. Ben, o protagonista, parece uma animação por pintura em seu pesadelo. Quando acorda, as coisas voltam ao normal, mas já é estabelecido que as imagens do filme não serão comuns. Porém, não são apenas os pesadelos que ganham esta distinção visual. A história de Ben não é a única que faz parte de Sem Fôlego. Enquanto Ben vive na cor saturada dos anos 70, Rose (Millicent Simmonds), uma garotinha também surda, vive no branco e preto dos anos 20. A falta da audição não é a única característica comum aos dois. Tanto Ben quanto Rose estão desesperados por algo mais. No caso de Ben, sua mãe divorciada tenta esconder qualquer verdade sobre seu pai. Porém, Ben vê no pai misterioso a promessa de encontrar um sentido diferente para sua vida. Depois de ser atingido pelo raio, Ben foge de casa e viaja para Nova York sozinho, em uma cidade que, como qualquer outra metrópole, não possui muitas ferramentas para aqueles que não conseguem ouvir (devemos lembrar que Ben perdeu sua audição recentemente e não fala a linguagem dos sinais). Diferentemente de Ben, Rose parece ter nascido surda. Porém, os dois vivem um paralelo parecido. Assim como Ben, a pequena Rose não sabe a linguagem dos sinais. Com um pai duro que a dá um livro para esta linguagem (não fica nem claro que Rose tenha conhecimento das letras para conseguir entender o livro), ela também foge de casa e vai a Nova York em busca de uma atriz misteriosa. O filme não é convencional no método em que seu enredo é desenvolvido. Se em um roteiro convencional as ações de personagens causam obstáculos que nos levam ao suspense e a nos perguntar como o protagonista irá solucionar os problemas, aqui o suspense é causado pela edição entre os dois personagens. Assim, antes de mostrar qual o resultado de qualquer ação tomada por Ben, Sem Fôlego muda rapidamente de foco e nos mostra a história de Rose. E é preciso entender este tipo de estratégia no enredo para poder apreciar o filme de maneira mais completa. Se tentarmos ver Sem Fôlego de maneira convencional, a obra rapidamente se tornara entediante e longa. É preciso dar às imagens, assim como à edição, uma atenção maior para que possamos compreender não somente o enredo e os personagens, mas também o modo pelo qual foram atingidos por este algo surpreendente. Nota do Editor: Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro e artista de realidade virtual com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.
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