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Crônicas
15/12/2017 - 07h27
A melhor comida
Rangel Alves da Costa
 

Continuo achando uma besteira essa conversa de prato requintado para matar a fome. Somente quem já sentiu verdadeira fome sabe o que significa um punhado de farinha ou um pedaço de carne seca. Ou mesmo o que estiver ao alcance e sirva como alimento. Não é uma questão de luxo ou de escolha, é de necessidade mesmo.

Nunca tive frescura com relação a qualquer comida, pois saboreio com gosto aquilo que consigo encontrar na hora da fome. Mas também não passo nem perto de restaurante metido a besta, com cardápio de nomes estrambólicos e preços verdadeiramente aviltantes.

Eu queria entender por que existem pessoas que se sujeitam aos preços de tais restaurantes. Ter dinheiro demais não justifica deixar de usufrui-lo de maneira inteligente. Mostrar luxo, importância e poder, também não justificam padecer diante de um prato de nada e pagar até por ter pisado naquele chão.

Verdade que nos centros urbanos não há mais locais que ofereçam bons pratos a preços justos. Por isso mesmo que as pessoas se empanturram de massas oleosas nas lanchonetes e ambulantes. Como o tempo é curto para seguir até suas casas na hora do almoço e não há como pagar sequer prato feito todos os dias, então acabam se enchendo de óleo nas pastelarias.

Melhor sorte àqueles que procuram as feiras livres e os restaurantes populares para o almoço. Em tais locais ainda é possível comer fartamente, sem regras ou etiquetas, sair satisfeito e não comprometer muito o salário do mês. Mas nada igual a saborear uma comida caseira de mercado ou feira livre, cozida ou assada na hora, e sair com o apetite e o bolso contentes.

Mas na hora da fome é mesmo difícil fazer escolhas, pois a pessoa vai logo desejando tudo que encontrar pela frente. E por isso mesmo incorre no erro de fazer más escolhas. Tendo dinheiro, geralmente deixa de optar pelo trivial, pelo já conhecido, e se arrisca em pratos diferentes. E já aconteceu de ter em sua frente uma sopa rala quando desejava uma carne apetitosa.

Seja como for, a verdade é que evito qualquer comida de rua, seja lanche ou almoço, principalmente em restaurante de luxo. Prefiro passar fome a sentar numa mesa e torcer para que tenha boa aparência o que for servido. Ademais, gosto de cozinhar, de inventar perante o fogão, mas tudo à base de coisas simples.

Aliás, nunca tive exigências a respeito dos pratos mais costumeiros. Tem gente que não come fígado de jeito nenhum, outros evitam ao máximo carne de porco cozida ou assada. Alguns até viram o rosto diante de uma panelada de sarapatel, enquanto outros sentem nojo por mocotó. Tudo questão de gosto, que bem poderia ser posta à prova com a barriga vazia e sem outra opção.

Sendo comida já conhecida, para mim tanto faz que seja frita ou assada, ao forno, ao fogão de lenha ou no vapor. Gosto de bife, lombo, carne assada, refogado, moído, de qualquer jeito. Aprecio a carne de porco, de boi, de carneiro e ovelha. Gosto também dos miúdos do frango, da buchada, do fígado, daquelas partes que antigamente apenas os escravos se serviam como precioso alimento.

Saboreio com gostosura salsicha com ovos, formando uma farinha. O ovo é bom de qualquer jeito, diga-se de passagem. Sardinha em lata, mortadela, linguiça, tudo é gostosamente apreciado. Não há nada melhor que um cuscuzinho com tripa de porco por cima ou mesmo com ovos e manteiga espalhada. Resto de comida de ontem também ser como reinvenção, surgindo porções deliciosas.

A comida não deve ser vista como uma questão de escolha, mas de necessidade. E comer bem é escolher aquilo que realmente sacie a fome, sem que necessariamente seja de prato caro. As comidas caseiras, aquelas de cozinha, superam quaisquer outras que possam existir. No seu preparo, a certeza do que vai ingerir e o sabor de fome que a pessoa vai acrescentar.

Depois é só escolher suco de cajá ou de mangaba. E ao final um pedaço de goiabada para confirmar a doçura da boca.


Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).

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