Produtores de O Boneco de Neve, filme baseado no livro homônimo do escritor Norueguês Jo Nesbø em 2017, pareciam ter em mente o mesmo sucesso de Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, que também foi baseado em um escritor nórdico. Porém, o bom resultado do livro O Boneco de Neve está muito longe das telonas. A falta de qualidade do filme apareceu antes mesmo que o público pudesse formar sua própria opinião. Desesperado com a opinião da crítica, o próprio diretor do filme, Tomas Alfredson, previu uma rejeição da mesma e disse que o filme não está completo pois não teve tempo suficiente de filmar tudo na Noruega, além de descobrir que havia outros elementos faltando quando o processo de edição começou. Esse tipo de filmagem apressada lembra muito o que acontece com shows de televisão, onde o orçamento baixo e a necessidade de apresentar algo rápido fazem com que o resultado esteja aquém do esperado. As cenas parecem começar no meio e terminar antes do fim. Assim, nesta obra de suspense, não é nenhuma surpresa então que o filme desagrada tanto. As belas paisagens da Noruega e uma fotografia bonita não conseguem esconder a falta de estrutura e expectativa no filme, que conta a história de um psicopata que se denomina Boneco de Neve e tem como alvo jovens mães, uma ideia que poderia dar arrepios por si só, mas que falha na falta de estrutura do enredo. Porém, não é somente o enredo que desanima. Os próprios personagens deixam a desejar. Se Harry Hole no livro é um detetive dissoluto, porém cheio de complexidade emocional – tanto ao seu trabalho, quanto em relação a sua vida amorosa – aqui o personagem (Michael Fassbender) parece ter problemas somente na superfície, tornando-se quase chato. Sua nova ajudante, Katrine Bratt (Rebecca Ferguson), parece nunca ter sua história completamente contada. Alguns personagens ainda são divertidos, como Rakel (Charlotte Gainsbourg), mas não conseguem carregar o filme inteiro. Embora o resultado do filme não seja uma surpresa para o cinema (já houveram muitos filmes que falharam na telona), parece que aqui a falha é surpreendentemente similar aquelas da televisão. Tempos atrás, a TV copiava filmes de sucesso e os tornavam seriados clichês e sem muita estrutura, mas que eram assistidos por falta de conteúdo melhor. Com a chegada de serviços de vídeo streaming como Netflix, e com o barateamento de muitas produções por meio de equipamentos de cinema menos custosos, começaram a aparecer dezenas de obras dirigidas para a televisão e para a internet, boas e ruins. Deixando de copiar filmes de cinema, seriados começaram a copiar outros seriados, muitas vezes somente contendo as partes mais extravagantes destes, e deixando de lado qualquer complexidade na narrativa. Embora não seja uma série, O Boneco de Neve parece pertencer a esta tendência. Com um estilo mais preocupado em mostrar belas imagens e mortes bizarras (também uma disposição de muitos programas de televisão atuais), o filme deixa de lado qualquer tentativa de explicar suas cenas, apenas mostrando os detalhes mais clichês e chocantes. Talvez seja a primeira vez que um longa tenha ficado tão parecido com aqueles seriados que eram somente assistidos como passatempo por falta de algo melhor. O problema é: agora, não há quem queira apenas passar o tempo no cinema. Nota do Editor: Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.
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