Ontem tive o prazer de poder jantar ao lado de um casal de amigos que, entre outras coisas em comum, apreciam um bom vinho e também não entendem as razões pelas quais essa milenar bebida não atinge a maioria da população brasileira e, quando atinge, quase sempre acontece através de rótulos de outros países, em especial, aos da América do Sul como Uruguai, Argentina e Chile. Não sou especialista em vinhos, não fiz cursos e admiro aqueles que se prepararam para discorrer sobre o tema. No entanto, atrevo-me a comentar – na condição de cidadão comum e curioso que sou – sobre as características que envolvem esse maravilhoso e intrigante mundo do vinho. Venho colhendo informações, degustando e visitando vinhedos no Brasil e no exterior. Em cada lugar uma surpresa, quase sempre positiva. Com o passar dos tempos, as vinícolas passaram a perceber que o turismo voltado ao conhecimento dos vinhedos, o modo de produção, as características do local e a história de cada um desses paraísos abençoados por Baco passou a ser uma importante fonte de renda a ser agregada ao seu negócio. E mais, os vinhedos passaram a perceber que quanto maior o fluxo de visitantes, maior passou a ser a divulgação de seus produtos e a consolidação de suas marcas. Outro movimento que percebi como sendo o de maior crescimento foi aliar a gastronomia aos ambientes voltados à produção vinícola. Nos dias de hoje praticamente todas as vinícolas oferecem os serviços de excelentes restaurantes, onde podemos saborear pratos típicos da região aliados ao degustar dos vinhos produzidos logo ali, no quintal. O turismo gastronômico, onde além de enriquecer nossa cultura sobre vinhos e a região onde são produzidos, ainda possibilita que possamos, como em um passo de mágica, sentir o sabor e os aromas daqueles que fizeram acontecer, aquela região acontecer. Voltar ao passado através de experiências sensoriais, nos permitir viajar no tempo de modo que não precisamos tirar os pés do presente, mas passamos a compreendê-lo melhor. Aromas e sabores estarão eternamente gravados na mente de cada um, e acredito ser difícil encontrar alguém que não tenha saudades ou que deixe de suspirar quando provocado pelos aromas e sabores da infância, da adolescência ou de um momento marcante da vida. Não creio que alguém possa se esquecer do molho do macarrão feito pela avó ou pela mãe, assim como acredito que muitos já puderam dar um breve gole de um vinho contido em um garrafão comprado pelo avô ou pelo pai. Viajar para aprender, saborear e degustar é investimento que reflete na alma. Uma pessoa não deve deixar de ser humilde em razão da riqueza do conhecimento. Justamente o contrário. Quanto mais a alma está alimentada, maior deverá ser a capacidade de sublimação daquele que teve a privilégio de aprender, conhecer e experimentar. Nada mais inconveniente do que uma pessoa soberba e professoral em uma mesa. A mesa com amigos e com aqueles que nos são caros não deve ser o momento de imposição de conhecimento, mas de partilhar momentos; com leves pitadas do saber específico. Penso ser impossível desfrutar de uma boa mesa ou de um bom copo estando ao lado de um sabe tudo, daqueles que ficam indignados em razão dos demais não estarem percebendo notas de frutas vermelhas, chocolate, manteiga e um sem fim de ingredientes. Confesso que nunca percebi nada além de uva. Sei que meu comentário e confissão revela meu despreparo técnico, mas prefiro ser visto como leigo a ser notado como sendo o chato de plantão. No entanto, de modo algum me recuso a ouvir um especialista, mas para isso, será preciso que eu esteja pronto para uma aula. É muito importante que aquele que se disponha a ensinar, perceba se o ouvinte está pronto a ouvir. Os comentários até denotam uma impressão de que eu não dê a devida importância ao conhecimento específico. Posso assegurar que não se trata disso, pelo contrário. Trata-se de uma divagação de um cidadão que apenas quer beber o leite, não importando a cor da vaca. A pretensão de querer doutrinar as pessoas pode afastá-las do objetivo de conquistá-las. No Brasil tudo é quente ou frio, oito ou oitenta. Ou seja, estamos mais preocupados em ensinar o que é um “terroir” do que estimular o consumo de vinho, pois se trata de um alimento em estado líquido; ao menos essa é a minha definição. Sem dúvida esse breve artigo não se apresenta com a pretensão de uma tese, pelo contrário, ao escrevê-lo pensei estar sentado em uma mesa, saboreando um “tira-gosto” e bebendo um vinho saboroso. Não sou contra o requinte, até gosto, mas o prazer verdadeiro vem do simples, do atingível e do acessível. Pagar centenas de reais ou até mesmo milhares, em nada assegura conhecimento e bom gosto. Sem dúvida há vinhos que são verdadeiras joias, dado ao conjunto de características e cuidados que foram necessários para criá-los. Mas comprar vinhos de valor considerável apenas por acreditar que se está adquirindo o melhor, isso pode resultar em grande decepção e, consequente, distanciamento do mundo do vinho. Vinho bom é o vinho que lhe agrada. Não se trata de uma verdade absoluta, mas de um raciocínio simples e que nos impede de aventuras improdutivas. Não sou o autor dessa frase, pelo contrário, felizmente tive a oportunidade de ouvi-la da boca de grandes conhecedores de vinho. Sem dúvida é uma forma reduzida e simplória de se dizer: Beba aquilo que lhe agrade e que se dane as opiniões contrárias. Nota do Editor: Edson Pudence (www.edsonpudence.com.br) é um amante da vida e da boa mesa. Sua missão é desmitificar a felicidade, os hábitos diários e encontrar o prazer nos pequenos e grandes detalhes do cotidiano, desde apreciar um por do sol até degustar uma premiada garrafa de vinho.
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