Eu seguia pela ciclovia depois de um período de trabalho, me mantendo à direita conforme regra de trânsito. Já passava das 22 horas. De repente, quase chegando no meu bairro (Ipiranguinha – Ubatuba), eu avisto um grupo se avolumando na minha direção, ocupando todo o espaço, forçando outros ciclistas à modificação de suas rotas, tendo de sair para a via reservada aos carros. Eram sete bicicletas, alguns carregando crianças. Pela falação, logo reconheço como pessoas religiosas, "evangélicas" talvez (alguns portavam bíblia). O assunto de igreja continuava; não davam nenhum sinal de abrir espaço para quem vinha no outro sentido (no caso, eu). Fui seguindo em frente. Somente no último instante, quando a trombada parecia inevitável, uma brecha foi aberta e eu passei. No mesmo instante escutei uma mulher dizendo: “Ó, glória! Jesus te ama!”. Dei risada porque sabia da intenção real da frase, com um palavreado que ela certamente sabia usar muito bem. Quanta hipocrisia! Que falta de reflexão e de atitude cidadã! Desconfio que o Velho Drummond estava certo ao escrever: “Fala-se tanto, e a ideia de Deus ainda não chegou a constituir uma ideia”. E agora aprendi: caso volte a viver outra experiência similar, vou logo dizendo “Ó glória...”, mas o verdadeiro sentido você já aprendeu com aquela “piedosa” mulher sem noção alguma de civilidade. Enfim, transgressões assim são comuns, mas continuam sendo reprováveis. O meu lugar é o lugar de todos. Por isso que cidadania é também participar de maneira ativa da organização político-social e exigir seus direitos. Em tempo: o que esperam acontecer de trágico para que seja construída uma ciclovia à margem da BR-101, desde a praia Vermelha do Norte até a Toninhas?
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