O tempo passa, o tempo voa e chega um momento em nossas vidas que envelhecer se torna mais perceptivo. Esta fase é diferente para cada um, a consciência pode ser repentina ou sutil. Os primeiros fios de cabelos brancos, flacidez, rugas... Uns se preocupam mais do que outros com as marcas corporais. Rubem Alves nos revela: “Foi assim que eu me descobri velho, ao ver minha imagem refletida no espelho dos olhos daquela moça”. A moça a que o autor se refere é a que lhe cedeu o lugar no assento do metrô. Prossegue o mesmo: “Primeira premissa: eu sou velho, o gesto da moça do metrô o atesta. Segunda premissa: a velhice é a tarde, imóvel, banhada por uma luz antiquíssima; a metáfora poética assim o declara. Terceira premissa: essa tarde imóvel me encanta, é bela. Conclusão: a velhice é bela como a tarde imóvel. Em seu livro, a Velhice, Simone de Beauvoir nos mostra que o nosso inconsciente ignora esta fase, pois a velhice está presente no outro e somente a partir do outro percebemos que estamos na fase final do ciclo da vida, o que para muitos pode ser uma fase de negação. Um bom momento para refletirmos que não podemos negar o inexorável como nos alerta a escritora: “Morrer prematuramente ou envelhecer, não existe alternativa”. Pois bem, qual a conclusão? Encarar e aceitar que a velhice é uma fase natural da vida e não há como fugir deste ciclo: nascimento, crescimento, amadurecimento, envelhecimento e morte. É o resultado dinâmico de um processo global da vida, durante o qual o indivíduo se modifica incessantemente. O que fazer a partir dessa auto aceitação (atitude positiva em relação a si próprio e a seu passado, aceitando características boas e más), que, segundo a pesquisadora Anita L. Neri, é uma das dimensões que contribui para o envelhecimento bem sucedido? Acredito que nesse primeiro momento seja interessante entender que o envelhecimento vai além da idade cronológica, podemos chamar idade existencial, a qual diz respeito à existência humana na complexidade das dimensões física, biológica, psicológica, funcional, social e cultural, associada a uma nova concepção de tempo, um tempo subjetivo, pertencente a cada um, que pode ser compreendido como totalidade, existência, possibilidade do Ser, possibilidade de transformação como Ser único em seu tempo vivido. Ou seja, os anos vividos dizem respeito ao sujeito que os vive. Viver, envelhecer é reconhecer que a revisão de vida se faz presente. Acreditamos que é necessário separar o que é fundamental do que é irrelevante. Não queremos desperdiçar nossa energia vital em coisas que não servem a essa fase da vida. Precisamos de coragem para descartar o entulho das nossas vidas, as obsessões, os padrões, as crenças limitantes, as atividades, as coisas, que não se adéquam a quem somos agora ou quem desejamos nos tornar. Ao ler “Em busca de sentido”, do psiquiatra Viktor Frankl, compreendi porque minha revisão de vida me causou tamanho impacto. Frankl, que passou muitos anos em um campo de concentração nazista, chegou à conclusão que podem nos tirar tudo o que temos na vida com exceção de uma coisa: a liberdade de escolher como reagir a determinada situação. Hoje acredito que a maneira como reagimos em determinada situação é o que define a qualidade de nossas vidas. Se pudermos atribuir novos sentidos a situações que consideramos estressantes, evitaremos as reações bioquímicas e hormonais que danificam o nosso cérebro, como nos alerta Jean-Paul Sartre: “Viver é isto, ficar o tempo todo se equilibrando entre escolha e consequências”. Sendo assim, indago: quais escolhas faremos hoje, levando em consideração o equilíbrio entre as nossas limitações e as nossas potencialidades? Nota do Editor: Maristela Negri Marrano é sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba (Clap). E-mail: maristela@centroclap.com.br.
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