Os homens que não querem crescer
Quem não conhece as aventuras do Peter Pan, o personagem criado em 1911, pelo escritor James Matthew Barrie? Originalmente criado para uma peça de teatro, o personagem virou livros, filmes e musicais. Peter Pan é um rapaz que se recusa a crescer e sai pelo mundo em busca de aventuras mágicas. O personagem mais famoso deste conto infantil, Peter Pan, também virou sinônimo para os homens que têm dificuldade em amadurecer. Isso aconteceu a partir da publicação, em 1983, do livro do psicólogo norte-americano Dan Kiley, intitulado “Síndrome de Peter Pan: o homem que nunca cresceu”. Segundo Ghina Machado, psicóloga, neuropsicóloga e cofundadora da Clínica Estar, a principal característica desta síndrome é a negação em relação ao envelhecimento. “Há um medo constante de assumir as responsabilidades da vida adulta. São pessoas que perpetuam comportamentos infantis e isso pode afetar a vida acadêmica, profissional e amorosa. Sabe aquele funcionário que “faz bico” ou “fecha a cara” quando recebe um feedback, como se fosse uma criança levando bronca da mãe?”, conta a psicóloga. Como reconhecer um “Peter Pan” da vida real? “Não podemos generalizar, porém certos comportamentos são típicos. Adultos que moram com os pais, mesmo tendo condições financeiras para sair de casa; não assumem relacionamentos amorosos sérios ou em longo prazo, não gerenciam a própria vida e esperam que os pais façam tudo por eles. O homem que se encaixa nesse perfil é aquele que não quer problemas, não quer resolvê-los e foge deles” comenta Ghina. Em resumo, é um homem adulto, cronologicamente e fisicamente, que ainda quer viver a vida despreocupada que tinha quando criança ou adolescente. Sem preocupações e sem estresse. Avançar na carreira, comprar uma casa ou um carro, assim como estabelecer um relacionamento sério não fazem parte de seus planos. Não seja a Wendy Darling deles Mas, cuidado: se apaixonar por um homem “Peter Pan” é muito fácil! Segundo Ghina, homens que se encaixam no perfil costumam ser encantadores, divertidos e descolados. “Como a mulher tem o instinto de proteção e da maternidade, é fácil se apaixonar e virar a “cuidadora” dele, assumindo todas as responsabilidades da relação. Entretanto, em algum momento a parceira irá perceber que virou a “Wendy” da história, por isso os relacionamentos costumam durar pouco”, explica Ghina. Como criar um Peter Pan em dois passos A criança é muito influenciada pelos fatores ambientais, além dos fatores intrínsecos e predisposições genéticas. Há comportamentos dos pais que podem influenciar na vida adulta, impedindo que essa pessoa se desenvolva e assuma sua vida. Dois fatores são cruciais para desenvolver a síndrome de Peter Pan: a superproteção e não ensinar o valor da responsabilidade para os filhos. “Superproteger uma criança é ir contra todos os preceitos da educação, ou seja, educar para a criança ser independente e fazer escolhas conscientes. É como se os pais afirmassem que os filhos são incapazes. Além disso, a criança não entende as consequências negativas de decisões erradas, ou seja, não aprende a assumir responsabilidades”, afirma Ghina. Como sair da Terra do Nunca para a vida real O primeiro passo é querer. “Hoje, o mundo corporativo não aceita certos comportamentos, como a falta de maturidade ou não assumir responsabilidades. O Peter Pan não tem vez nas empresas. A psicoterapia é capaz de ajudar a desenvolver certas habilidades necessárias e também a reconhecer que a Terra do Nunca só existe mesmo nos contos infantis”, finaliza Ghina.
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