Regularmente sou abordado por pessoas, sobretudo jovens, que questionam sobre divindades, possibilidades de outras dimensões, pecado, graça, castigo divino etc. Eu, que não sou nenhuma autoridade no assunto, buscando não escandalizar “nenhum desses pequeninos”, procedo insistindo na verdade do conjunto inigualável da nossa cultura (local, brasileira e universal), onde nós nos construímos, nos modificamos e nos aperfeiçoamos. É difícil, sobretudo às mentalidades instrumentalizadas pelas infindáveis orientações religiosas e pelas mídias altamente tecnológicas, que menosprezam os valores culturais, aceitarem que tudo aquilo que dá sentido ao nosso viver é cultural, compõe a maravilhosa cultura humana. Pior: nunca aventarão a possibilidade da autonomia do raciocínio. “É subversivo, vai contra o sistema dominante”. Imaginemos o homem primitivo desenvolvendo o seu lado artístico para dar outros sentidos ao arriscado viver, fomentando o caráter mágico nas suas interpretações dos fenômenos naturais. Possivelmente é quando, espontaneamente, se atribui espíritos animadores diante de tantos temores; nomes são dados, depois adotados como divindades que terão uma função aglutinadora. Surgirão as tribos, as etnias se tornarão povos que guerrearão sob motivações várias (por território ancestral de caça e de coleta, por área com fartura de água e de pastos, por local de alguma manifestação inexplicável etc.), quase sempre acreditando numa orientação e proteção divina. Virão os impérios justificados por razões sagradas (teocracias). E as formas culturais se diversificarão. Cassirer, um pensador polonês que morreu em 1945, afirmava que “todas as formas culturais, sejam elas mítico-criativas (relacionadas à criatividade ou explicações por meio de mitos) ou lógico-discursivas (relacionadas à lógica e ao discurso), têm em comum o caráter simbólico. Estudar o homem, portanto, é estudar o simbólico”. Portanto, todas essas coisas geradoras de intrigas e até causadoras de mortes são, na verdade, variações culturais de interpretação do mundo.
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