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Brasil
21/07/2017 - 06h42
Brasileiros preguiçosos?
Cristiano Parente
 

Em estudo baseado em dados de um aplicativo de uma gigante de celulares divulgado recentemente, descobriu-se que os brasileiros estão caminhando abaixo da média mundial. O aplicativo contabiliza as passadas dadas ao longo do dia quando estamos com o celular no bolso, ou seja, praticamente sempre.

Esse dado nos remete a algumas considerações interessantes. A primeira delas e mais evidente está relacionada ao baixo índice de atividade física praticado no país, o que claramente contradiz algumas pesquisas recentes sobre o número de pessoas ativas no Brasil estar próximo dos 40% ou 50%.

Existe uma explicação para tal diferença. Esses números totalmente fora da realidade surgem quando as pesquisas perguntam para as pessoas se elas são ou não ativas. Para não se sentirem envergonhadas, muitas acabam respondendo com dados, digamos, não verdadeiros. Sabemos que o número de praticantes regulares de atividade física no país é de 4% e chega no máximo a 10% quando consideramos os esporádicos. Os dados trazidos recentemente pelo aplicativo, então, nos revela a realidade: "sim, somos sedentários".

Alguns levantam questões econômicas ou falta de tempo como impeditivos, mas, ao longo de mais de 20 anos de profissão, trabalhando com todos os públicos possíveis, não consegui encontrar até hoje, uma única pessoa, na qual não fosse possível colocar alguma atividade, sem mudança drástica de rotina, e sem custos. Por qual razão, então, nós brasileiros, somos preguiçosos, sedentários e inventamos essas desculpas?

A maior dificuldade está na imagem que temos sobre o que é exercício físico, onde ele existe e podemos praticá-lo, e o que realmente sabemos sobre nossa necessidade de movimento.

Não nos ensinaram que o exercício não precisa ser intenso, que não é preciso nos "fantasiarmos" de esportista e muito menos competir no esporte ou no Fitness por resultados que poucos são capazes de atingir. Isso, aliás, tem efeito contrário, já que comparações de resultados e metas de outras pessoas podem nos frustrar.

Não sabemos como o corpo funciona, porque precisamos nos mover, e ainda nos fizeram associar mentalmente esforços com castigos. A educação física escolar tem uma grande responsabilidade sobre isso. E os pais, que também sofreram e não receberam o real conteúdo da educação física seguem fortalecendo o modelo sedentário, não dando exemplos (pois afinal nem sabem como fazer). No final das contas, geramos gerações e gerações de pessoas avessas ao exercício, com preguiça do esforço.

Evidentemente, o fato de pesquisas ligadas à tecnologia revelar o sedentarismo no país não é o suficiente para fazer as pessoas mudarem o comportamento e o estilo de vida. Esse trabalho de transformação acontece na cabeça e não no físico.

Experiências positivas na atividade física infantil são capazes de criar associações e conexões de prazer com o exercício. Nosso cérebro gosta de sentir prazer, independentemente da idade. Quando estamos em situação de sucesso, reconhecimento, eficiência e mérito, nos sentimos bem. Já nos ambientes competitivos, de comparação, de esforços ultra intensos, surge o medo, a vergonha, a incerteza, o fracasso etc., todas sensações negativas, que fazem com que fujamos delas pelo risco. Exceto o pequeno grupo formado pelos 4% de ativos que temos já na sociedade e que gostam desse desafio.

Há um modelo certo para ampliarmos esse grupo e termos uma população menos sedentária. É o modelo onde entendemos o exercício, onde escolhemos o que gostamos, do jeito que gostamos, na frente de quem queremos e que favoreça as decisões, conscientemente, de fazer mais ou menos vezes um esforço. Esse tipo de modelo é capaz de trazer mais pessoas para uma vida ativa.


Nota do Editor: Cristiano Parente é professor e coach de educação física, eleito em 2014 o melhor personal trainer do mundo em concurso internacional promovido pela Life Fitness. É CEO da Koatch Academia e do World Top Trainers Certification, primeira certificação mundial para a atividade de educador físico.

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