Minha vida tem sido uma busca por justiça e pela criação de liames, de pontes concretas que liguem o real ao ideal. Constante pesquisa do que sou, de olho no que possa vir a ser, sem pensar no que esperam de mim. Muitas vezes perco–me em vazios, fico sem ter referenciais e ao tentar livrar–me do atoleiro vacilo e atolo–me mais e mais. Sob os pés que trilham este trecho esquecido e singular do tempo, abrem–se fundas, famintas valas, perdem–se esperanças e crenças. Mas volto a lançar pontes de barro, renovo com freqüência o alento e, munido de exemplar paciência, disponho–me a recomeçar. E os dias, com suas circunstâncias, macetes e peculiaridades, as horas, passageiras fugazes, as muitas ausências e distâncias, são valas escuras e profundas, famintas, insaciáveis gargantas. Hienas famélicas e vorazes, encurvadas, sempre a gargalhar dos meus tolos sonhos infantis: devoram toda e cada esperança nova. Forçam a me renovar. Não houvesse você, alma gêmea, que partilha ilusão e a vida, sonhos, sorte, azar e destino, fé e tudo o quanto ainda sou; não houvesse você, companheira, que segue através do meu caminho repisando os rastros dos meus passos, e jamais eu lançaria pontes sobre abismos e valas profundos e ao invés de apenas meus desejos eles destruiriam meu ser. Vem para meus braços, doce amada. Sinta...Sinta o mudo desespero que vibra na fragílima carne. Sinta...Sinta na sua estrutura minha virilidade, euforia, meu carnal e instintivo amor. Acolhe neste seu ventre fértil sementes sagradas do amanhã. Faça gerar em suas entranhas, para lançar sobre o fundo abismo a nossa concretíssima ponte entre o efêmero humano e Deus. (Poema composto em Campinas em 5 de abril de 1971.) Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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