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SEÇÃO
Poesias
02/07/2017 - 05h51
Pontes
Pedro J. Bondaczuk
 

Minha vida tem sido uma busca
por justiça e pela criação
de liames, de pontes concretas
que liguem o real ao ideal.

Constante pesquisa do que sou,
de olho no que possa vir a ser,
sem pensar no que esperam de mim.

Muitas vezes perco–me em vazios,
fico sem ter referenciais
e ao tentar livrar–me do atoleiro
vacilo e atolo–me mais e mais.

Sob os pés que trilham este trecho
esquecido e singular do tempo,
abrem–se fundas, famintas valas,
perdem–se esperanças e crenças.

Mas volto a lançar pontes de barro,
renovo com freqüência o alento
e, munido de exemplar paciência,
disponho–me a recomeçar.

E os dias, com suas circunstâncias,
macetes e peculiaridades,
as horas, passageiras fugazes,
as muitas ausências e distâncias,
são valas escuras e profundas,
famintas, insaciáveis gargantas.
Hienas famélicas e vorazes,
encurvadas, sempre a gargalhar
dos meus tolos sonhos infantis:
devoram toda e cada esperança
nova. Forçam a me renovar.

Não houvesse você, alma gêmea,
que partilha ilusão e a vida,
sonhos, sorte, azar e destino,
fé e tudo o quanto ainda sou;
não houvesse você, companheira,
que segue através do meu caminho
repisando os rastros dos meus passos,
e jamais eu lançaria pontes
sobre abismos e valas profundos
e ao invés de apenas meus desejos
eles destruiriam meu ser.

Vem para meus braços, doce amada.
Sinta...Sinta o mudo desespero
que vibra na fragílima carne.
Sinta...Sinta na sua estrutura
minha virilidade, euforia,
meu carnal e instintivo amor.
Acolhe neste seu ventre fértil
sementes sagradas do amanhã.
Faça gerar em suas entranhas,
para lançar sobre o fundo abismo
a nossa concretíssima ponte
entre o efêmero humano e Deus.

(Poema composto em Campinas em 5 de abril de 1971.)


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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