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Arquitetura e Engenharia
15/06/2005 - 07h00
Por trás dos números
João Claudio Robusti
 

A 23ª Sondagem Nacional da Construção mostrou que a maioria dos empresários do setor está mais desanimada com relação às perspectivas de crescimento econômico.

O desânimo resulta de um desalento com o ritmo da retomada, insuficiente para recuperar a queda de vários anos nas atividades do setor.

Esse estado de espírito parece contradizer os dados de crescimento de emprego, de aumento de financiamentos imobiliários e de incremento das verbas para habitação popular e saneamento.

A contradição é apenas aparente, se examinarmos melhor os dados. Por exemplo, o emprego na construção civil brasileira aumentou 3% no acumulado do primeiro quadrimestre deste ano. Mas as 38,5 mil novas contratações permaneceram abaixo das 40,9 mil do mesmo período de 2004. E foram insuficientes para repor as 49,5 mil vagas fechadas em novembro e dezembro do ano passado.

Tomemos o aumento dos financiamentos imobiliários com recursos da Poupança. No primeiro quadrimestre, esses financiamentos aumentaram 66,5% em volume, em comparação ao mesmo período do ano passado. Entretanto, possibilitaram a construção e a aquisição de um número 10% menor de unidades. Cresceu o número de moradias financiadas para a construção, mas declinou aquele destinado à aquisição. Uma das explicações é que candidatos a imóveis de padrão mais elevado - e portanto mais caros - continuam tendo mais facilidade na aprovação de seus pedidos de financiamento.

Na área de habitação popular com recursos do FGTS, foram aprovados 79,4 mil financiamentos de janeiro a maio deste ano, 8,5% a mais que no mesmo período do ano passado. Destes, entretanto, apenas 173, além outros 17 na modalidade do PAR (Programa de Arrendamento Residencial) foram destinados para as construtoras que edificam moradias e geram empregos. A quase totalidade dos restantes foi ou para a aquisição de material de construção ou diretamente para a autoconstrução.

A esses três exemplos pode ser adicionada a freada das atividades das empresas voltadas a pavimentação de estradas, saneamento e obras públicas, devido ao contingenciamento dos recursos e à falta de marco regulatório. Ou ainda a redução dos investimentos por conta da elevação dos juros, diminuindo a atividade das construtoras que atendem a iniciativa privada.

Ou seja, se há aqui e ali algum crescimento, ele não está sendo sentido por possivelmente 95% da construção civil. O resultado é o pessimismo do setor, refletido na Sondagem.

Promessas não faltam para a reversão desse quadro. Em 2005, deveremos bater o recorde de recursos aplicados em habitação e saneamento. Entretanto, os governos federal, estaduais e municipais ainda precisarão fazer muita lição-de-casa, para que os recursos efetivamente estimulem a construção e o emprego, restituindo o otimismo ao setor.


Nota do Editor: João Claudio Robusti é presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo).

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