Eu sou gago de alma, sabe. As sinapses são conexões graves: A psique numa coreografia de revolta e depressão. Sempre travo e me traio em horas, palavras, sentimentos. Sempre sufoco minha autoexpressão. Eu repito os mesmos erros, atropelo os acontecimentos. Cada sílaba é um abismo que namoro com dor de tanto tesão, tensão. Viver um discurso é um verdadeiro campo minado para mim todo taciturno, um embaraço Cada palavra é um tiro! Cada iniciativa ao falar um fio de chão. E de palavra em palavra assalto-me ideias quase mortas de tantas palavras que suprimo para não me constranger nesse destino de quem não fala não se vê e na cara recebe a torta. Eu lambo meu próprio rosto corado e saboreio minha desarmonia Não me interessa a vida me interessa vivê-la dia após dia. Cada letra uma ousadia à minha maneira todo eu meio que sem graça sem fluência de corpo e alma, prazer, sou gago alfa. Vitoriosamente sem linha Eu dou graças à escrita que me libera desse cárcere. Minha voz um desafinado instrumento desse enlace. De mim para comigo mesmo uma chama trépida que dança um desajeitado charme que me finca uma lança! Nota do Editor: Com a poesia “Dentro da voz do gago existe uma tragédia grega”, Felipe Horácio Gonçalves Ferraz Riela foi considerado o melhor intérprete do 33º Concurso de Poesias Nhô Bento, ocorrido no dia 19 de novembro, em São Sebastião, SP.
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