Gustavo Grunewald      O pescador Manoel Messias Soares.

A Fundacc - Fundação Educacional e Cultural de Caraguatatuba, a Prefeitura Municipal e a Associação de Pescadores do Camaroeiro realizam o 8º Festival do Camarão nos dias 10, 11, 12 e 13 de junho na praia do Camaroeiro. A abertura oficial do evento está prevista para o dia 10, às 18 horas.

Reunindo a cultura e as tradições caiçaras, a gastronomia, arte e artesanato, literatura e áudios visuais, e apresentações de grupos folclóricos e musicais, o Festival do Camarão promove o encontro do caiçara pescador com o resto da comunidade e também com turistas, revitalizando e preservando a cultura local.
Dando início às ações do Festival do Camarão, acontece no dia 31 de maio, às 17 horas, no Entreposto de pesca do Camaroeiro, a cerimônia Barcos ao Mar, com a benção dos barcos que voltam à pesca após o período do defeso do Camarão.

Participam desse momento os pescadores e suas famílias. Está prevista também uma pequena procissão com São Pedro Pescador pelo Camaroeiro, realizada pelos pescadores.

Durante a cerimônia Barcos ao Mar, será homenageado, como em todos as outros festivais do camarão, um pescador antigo, escolhido pelos pescadores. O indicado deste ano foi o Sr Manoel Messias Soares, do bairro do Massaguaçu.

Conheça o pescador homenageado neste festival:

"Seu" Messias é Filho de Benedito Inácio Soares e Maria Antônia da Silva Soares, nasceu em 12 de abril 1927 na Fazenda Paraíso no Bairro Massaguaçu, Sertão dos Tourinhos.

"Seu" Messias, como é conhecido, viveu a vida inteira no Massaguaçu. Além de pescar trabalhava na lavoura da Fazenda Paraíso onde cresceu auxiliando seu pai na plantação de feijão, arroz, na produção da farinha de mandioca, fubá e farinha de milho. Os produtos eram produzidos para o consumo da família e também para a venda no centro de Caraguá. Os alimentos para serem vendidos eram transportados em mulas que eram guiadas pelas antigas picadas sob a linha de telégrafo.

No Massaguacu estudou até a quarta série e hoje, com uma memória invejável, relembra nomes dos antigos professores da Escola Rural e da escola Mista do Massaguaçu como: Osiris Nepomuceno, Prof. Isidoro e Dona Mariquinha.

Na mocidade iniciou a vida de pescador, porém, tinha o sonho de ser cantor, chegou a formar uma dupla de viola que percorreu várias cidades chegando a conhecer um mundo totalmente diferente daquele onde nasceu e foi criado.

Não tendo muito sucesso na vida de cantor retornou para Caraguatatuba para dar continuidade à vida pesqueira, que era um dos meios de sobrevivência na época. Chegou a fabricar suas próprias canoas a remo e nelas viajava para longe ao lado de companheiros pescadores.

Uma das experiências contadas pelo "seu" Messias nos tempos da pesca artesanal era o conhecimento que possuíam ao identificar um peixe antes mesmo de ser trazido à flor da água. Seu Messias se orgulha de ter sido um dos pescadores que possuiu a carteira de matrícula fornecida pela Marinha.

Segundo ele, durante o tempo que trabalhou na pesca artesanal procurou outras atividades como pedreiro e motorista de caminhão para auxiliar no sustento da família, pois só a pesca já não era suficiente.

Na década de 70, comprou um motor para adaptar seu barco, segundo ele, os barcos grandes já estavam prejudicando a pesca artesanal que começava a desaparecer.

Entre muitas histórias contadas por ele, relembrou alguns fatos ocorridos na história da nossa cidade como o período da imigração japonesa em Caraguatatuba no final dos anos 40, a catástrofe de 1967, onde ajudou a socorrer as vítimas e outros episódios que relembra com clareza e que nos faz valorizar ainda mais as memórias vivas presentes em nosso Litoral Norte.

Hoje, aos 78 anos de idade, não vive mais da pesca, mas guarda com carinho os antigos apetrechos. Vive ao lado da esposa Maria Fernandes Soares e dos filhos no Sertão dos tourinhos, onde nasceu e foi criado.