O peso da dívida para o homem é maior pelo estereótipo de "homem é sempre forte", sendo força a riqueza
Que dívidas tiram o sono de muitos brasileiros é algo conhecido – pesquisas das principais empresas do segmento financeiro e institutos de economia apontam como causa principal de estresse os problemas financeiros – mas que este problema gera mais desconforto nos homens é algo que Suyen Miranda, consultora em saúde financeira e qualidade de vida, vem notando em suas pesquisas. “Muitos clientes e elementos pesquisados do sexo masculino apresentam bem mais dificuldade em lidar com dívidas do que as do sexo feminino”, explica a consultora, que credita a isso razões psicológicas. A pressão que os homens tem da sociedade para serem sempre bem sucedidos sem cometer falhas é algo que traz uma cobrança pessoal para o indivíduo, e se ele for o chefe da família isso se acentua, “porque os homens se culpam por não terem sido fortes, inteligentes o suficiente para lidar com o problema, e muitos não sabem dizer não aos filhos, pais, pessoas amadas”, afirma. Suyen Miranda diz que o peso do problema da dívida para o homem é infinitamente maior por conta dos estereótipos masculinos que forjam no imaginário do mundo capitalista que “homem é sempre forte” e isso hoje se entende por força de riqueza. No passado era a figura do maior, o mais valente e resistente; hoje é daquele que sempre diz sim, compra e nem verifica se o troco está certo, pois é tão forte financeiramente que não precisa de “migalhas”. “Posso dizer, pela minha experiência, que é um problema exclusivo dos homens. Mulheres em dívidas ficam também estressadas, mas conseguem assumir até para si mesmas que o problema existe; choram, pedem ajuda a tudo que for virtual – e assim tenho respondido muitos e-mails... – até que conseguem juntar forças e procurar ajuda concreta dos familiares, do amado e mesmo dos filhos. As mulheres são mais fortes? Não. A sociedade é, no seu sistema de imagens, mais condescendente com a dita `fraqueza´ das mulheres, e nisso são coitadinhas, vítimas do sistema capitalista indomável etc. etc. O fato é que mulheres sofrem com as dívidas mas assumem com mais facilidade e buscam ajuda em tempo menor que os homens”, diz a consultora. E o que fazer quando a dívida está consumindo a pessoa, que teme o julgamento de uma atitude que está causando grande mal à família, mas sobretudo a ele? “Resolver problemas deve ser uma atitude prática; revirar o passado para achar culpados é algo que certamente não trará dinheiro para quitar as dívidas. Vale propor uma conversa e apresentar de forma sucinta o que ocorre, abrindo espaço para que os membros da família proponham soluções, alternativas para reduzir gastos e aumentar a renda. Não é necessário fazer um inquérito para apurar a responsabilidade porque achar o culpado não irá trazer conforto ou solução. Agora, pelo lado do familiar que descobre estar o pai, irmão, filho ou esposo endividado, recomendo que busque informação sobre o montante de débitos pendentes para assim propor uma conversa sobre planos futuros. É preciso evitar qualquer insinuação sobre conhecer o tamanho da encrenca para não deixar a outra parte mais culpada do que já está”, explica Suyen Miranda. A consultora finaliza lembrando que o dinheiro deve ser tratado de forma fria, mas o comportamento e envolvimento das pessoas sobre ele merece carinho, atenção e afeto, pois boa parte dos problemas financeiros enfrentados na sociedade vem exatamente da falta de afeto, seja da própria pessoa ou do cenário que a envolve.
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