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Comportamento
01/11/2016 - 06h04
Mulheres e as histórias que compramos
Semadar Marques
 

Era um dia frio de inverno. Estávamos meu marido e eu fazendo um curso de imersão em um hotel distante de nossa cidade. Na hora do retorno, uma das participantes sentiu-se mal e, como ela estava dirigindo, ficamos preocupados em como ela iria deixar seu carro ali. Ela perguntou ao meu esposo se ele poderia guiar seu carro até nossa cidade e ele respondeu que não, pois não dirigia, mas que sua esposa (no caso eu) certamente poderia.

Ela fez uma cara de espanto e recusou-se.

Trago este breve caso para contextualizar o que infelizmente ainda é a realidade para a maioria de nós, mulheres: a falta de credibilidade e confiança em nosso poder pessoal e capacidade. E me refiro ao que acreditamos a respeito de nós mesmas e das demais mulheres. Ainda possuímos uma insegurança histórica, resquício dos anos de submissão e dependência financeira e emocional da presença masculina. E é fato (comprovado pela ciência) que quando se trata de gênero, homens são vistos com maior competência apenas pelo fato de serem homens. E os dois gêneros tendem a acreditar nisso.

Julgar que não somos boas o suficiente nos coloca em situações de inferioridade de alguma forma. Claro que não estou generalizando, mas convido você a observar no ambiente ao seu redor e perceber o quanto isto ainda está nas entrelinhas do nosso dia a dia.

Aí você poderá me dizer: “Mas existem diversas mulheres fortes, que demonstram muita segurança no que fazem e impressionam por sua superioridade”. E a minha resposta para você é: “Se esta mulher estiver vivendo plenamente seus valores, seu propósito de vida, aquilo que realmente faz o coração dela vibrar, ok, ela superou de verdade a insegurança feminina e acredita que tem o direito de fazer o que ama e a faz feliz”.

Mas, se ela vive angustiada, querendo a todo momento provar o seu valor através do papel de super mulher, eu lhe afirmo: ela ainda precisa se autoafirmar de alguma forma. E tem uma necessidade inquietante de atender as expectativas de todos a sua volta, esquecendo muitas vezes das próprias vontades e anseios.

E isto não é nada bom. É uma postura que nos distancia de nós mesmas e faz com que percamos muito em autoestima e autovalorização.

A premissa de que a mulher não é boa o suficiente para determinados assuntos é apenas uma história que nos foi contada por gerações e que aos poucos estamos transcendendo, mas que precisamos aprender a recontar para nossos filhos e filhas. Nós, mulheres, somos responsáveis pela forma que com que nos impomos ou não para a sociedade. E isto não quer dizer que sejamos culpadas por estas histórias malucas de inferioridade que nos convenceram. Mas, somos sim, responsáveis por não comprá-las e não deixar que elas se perpetuem.

Existem atualmente milhares de iniciativas que se dispõem a acabar com estes estigmas horrorosos que ainda persistem na sociedade de que mulheres não são boas o suficiente para algo. Ações que buscam empoderar e inserir mulheres para o empreendedorismo, a tecnologia e ferramentas de programação (que historicamente é um campo masculino), a inserção de mulheres no campo das Ciências Exatas, entre muitas outras iniciativas, estão tomando espaço cada dia maior.

Pensar em inserir a mulher nos diversos contextos e oferecer a ela um olhar de credibilidade e confiança é um desafio necessário para o desenvolvimento e a consolidação da qualidade de vida. De acordo com a ONU Mulher (entidade das Nações Unidas, responsável pela promoção da Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres) o empoderamento feminino é quem garante o crescimento efetivo da economia e o desenvolvimento humano de uma nação, o impulsionamento dos negócios e a melhoria da qualidade de vida global. Nós, mulheres, somos provedoras, maternas e empáticas por natureza e são estas as qualidades e potencialidades que viabilizam este crescimento.

Mas, para isso, precisamos ser totalmente sabedoras de nossos valores internos e estarmos seguras de nossas potencialidades e capacidades. Preparadas para oferecer ao mundo nossos melhores dons, de maneira otimista e confiando umas nas outras, desenvolvendo a união necessária para nos fortalecermos e conquistarmos nosso espaço.


Nota do Editor: Semadar Marques (www.semadarmarques.com.br) é especialista em Empatia, Liderança Colaborativa, Propósito de Vida e Inteligência Emocional. Através de suas palestras, conferências e workshops sobre esses temas, Semadar busca inspirar as pessoas a irem atrás do que lhes faz plenamente felizes.

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