Inteligência humana é a capacidade de transpor barreiras. Criar condições para a solução de problemas. Examiná-los de frente e buscar recursos mentais para resolvê-los da forma mais apropriada. Nada mais que isso. Estudiosos empregam o termo capacidade cognitiva para a solução de problemas que exigem conhecimento adquirido durante o processo da educação. Vamos a um exemplo. Imagine a equação I V = I V + I I escrita com palitos de fósforo sobre a mesa. Ela está errada, mas pode ser corrigida com o movimento de um único palito. Se você resolvê-la em menos de 3 segundos, você está no grupo dos inteligentes acima da média. Um dia pode acontecer Recentemente, descobriu-se que a inteligência é mais do que isso. Visualizar uma saída sob uma condição estressante, por exemplo. Isso exige inteligência e autocontrole. Como no exemplo clássico da manopla que muda o curso do trem. Digamos que um trem esteja vindo em sua direção. No ponto em que você está, os trilhos bifurcam e só você pode acionar a manopla que define se o trem vai pelos trilhos da direita ou da esquerda. Sobre os trilhos da direita há três pessoas amarradas. Claro, você vai desviar o trem para a esquerda. Mas na última hora, você percebe que alguém foi colocado sobre o trilho da esquerda. O que você faz? Embora você não perceba o simples fato de processar mentalmente este problema já coloca o cérebro emocional em estado de alerta. A mente imagina que um dia esta situação pode ocorrer de fato, então é melhor começar a resolvê-la agora. Para isso será necessário elevar um pouco o nível de batimentos do coração e lançar um aditivo especial na corrente sanguínea chamado de cortisol. Na prática significa que agora você está miniestressado. Mais inteligentes do planeta Medições sistematizadas mostram que a inteligência média humana – medida pelos testes de QI – aumentam a cada geração. Chama-se esse fenômeno de efeito Flynn porque o pesquisador James Flynn estudou essa peculiaridade e observou que o QI médio aumenta 3-4 pontos a cada década. Os recém-ingressados no mercado de trabalho, nascidos por volta de 1980-90, que formam a chamada geração millennials, são as pessoas mais inteligentes do planeta. Pode tratar-se do efeito Flynn, ainda não se sabe. Millennials são peculiares. Nascidos online desconhecem o mundo em que não havia celulares em rede. São empolgados, impetuosos, dormem menos, consomem mais e googlam muito antes de decidir. Mas estudos recentes revelam que millennials são jovens estressados. Perguntados se sentem raiva ou irritam-se por pouca coisa, 44% deles respondem que sim, contra 36% dos babyboomers ou 15% dos maduros. Mais estressados nos últimos meses e por causa disso dormem menos? As respostas são pontualmente mais afirmativas para os millennials do que para as gerações anteriores. Um cérebro emocional Mas millennials vivem um momento crítico. Se são mais inteligentes – pelo efeito Flynn ou não – qual será a razão pela qual sua capacidade para lidar com o estresse está menos eficiente do que em gerações anteriores? Uma causa possível é que millennials estão plugados direto na rede mundial, resolvendo problemas de forma veloz e, na grande maioria das vezes, sem interagir com o humano do outro lado. Problemas que requerem cognição pura. No entanto, o cérebro dos millennials é exatamente como os das gerações precedentes e inclui áreas que contêm neurônios especializados para reagir quando, ao sair de casa, algum boomer lhe pergunta se você já escovou os dentes hoje. Desafio superinteligente Millenials não gostam de ser lembrados. Resultam estressados. A questão é, como eles vão resolver esse dilema – transformar-se em pessoas digitais com autocontrole emocional, empatia, assertividade e capacidade para utilizar tanto a inteligência técnica como a emocional em um estalo de dedos? Millennials vão precisar ousar para crescer em um planeta cuja globalização infotecnológica os deixou megaespertos, mas ainda não superinteligentes. Nota do Editor: Dr. Martin Portner (www.martinportner.com.br) é Médico Neurologista, Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness.
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