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Comportamento
30/09/2016 - 05h56
Relacionamento 4,5
Bayard Galvão
 

Em uma prova que vale 10, qual a média para passar nela? Algumas escolas proporão 5,0, outras 7,0, com as suas respectivas dificuldades. No seu relacionamento íntimo com o seu amado ou amada, qual a nota mínima que você proporia para mantê-lo?

Relacionamento “4,5” é aquele que sempre está abaixo da média e só melhora, por até uns três meses, mediante ameaças do tipo “Ou você muda ou nos separaremos”. Esse tipo de vínculo pode durar por décadas e provocar incapacidade de ter prazer e uma constante indiferença ao viver.

Dificilmente alguém começa um relacionamento de nota 4,5, a menos que a sensação de ficar sozinho receba 2,0 pelo fato do indivíduo não conseguir conviver minimamente bem consigo. Nestes termos, a regra é “ruim juntos, pior separados”.

De uma maneira geral, chega-se ao “quase” insípido 4,5 após um período, seja de um ano ou décadas. As pessoas se relacionam para alimentarem suas vidas. Um vínculo 0,5 abaixo do mínimo se assemelha à comida de hospital, que alimenta e tem todos os nutrientes necessários para manter o corpo, mas não traz a satisfação de quem está comendo um belo “filé à parmegiana”.

Observe alguém comendo feijão de hospital: o rosto de prazer do ato me lembra da emoção que tenho ao fazer a barba resignadamente, ato necessário e desprovido de qualquer aspecto que dê algum significado à vida.

As duas mais comuns causas do fim dos relacionamentos íntimos são a curiosidade em relação ao diferente e acostumar-se com o que o outro tem ou faz de bom, facilitando a indiferença em relação ao alimento do amor (reconhecimento e valorização do bem que o outro faz ou inspira no amante).

Estes dois vírus podem, gradual e sorrateiramente, minar todo o amor de um para com o outro, através de dúvidas sobre a validez de estar com a pessoa; de perguntas sobre ser melhor estar com outro indivíduo ou não; com indiferenças sobre o que antes era digno de palmas, como receber café na cama; com a cruel dessensibilização em relação ao cheiro do perfume ou gemidos viscerais de voluptuosos toques; e até chegando num perigoso momento em que a previsibilidade do outro gera tédio.

Há outras bactérias ou agentes microscópicos como diminuição de admiração, aparecimento de concorrência de peso, mudança de valores na vida (a exaltada ambição financeira aos 30 anos de idade pode ganhar tons de bobagem aos 40), deslealdades (como sair com outra pessoa ou não ser cuidado num momento de grande vulnerabilidade e necessidade) e mudanças para pior no humor diário do outro, indo de leveza e alegria no início para melancolia, amargura e alcoolismo anos depois. Tudo isso culminando comumente no cruel “4,5”.

Aprender a ficar imune ou lidar bem com esses vírus é da responsabilidade e maturidade de cada um.

Caso o seu relacionamento esteja abaixo da média, pergunte-se: de quem é a responsabilidade? Se for sua, você está disposto a mudar? Se for do outro, ele está disposto a mudar? Se estiver disposto ou disposta a mudar, é capaz? Quanto tempo demoraria? Se não houver como mudar, pelo menos não num tempo adequado, ficam duas possibilidades de vida saudável: ou aceita ou se separa. Contudo, para se separar, é importante levar em conta que tende a piorar mais o dia a dia a curto prazo, melhorando a médio e longo prazo. É comum (segundo o que vejo com meus pacientes) pessoas ficarem bem em até quatro meses após a separação, se não tiverem filhos. Se os tiver, este período costuma levar até um ano.

A vida é importante demais para qualquer sabor existencial ter uma média 4,5, seja um relacionamento íntimo, profissão, vinho ou filé à parmegiana. A busca da felicidade exige muito esforço e abdicações, mas teria preço mais alto do que chegar no final dos seus dias e dizer para si que um dos pilares do próprio viver foi de “4,5”?


Nota do Editor: Bayard Galvão (www.institutobayardgalvao.com.br) é Psicólogo Clínico formado pela PUC-SP, Hipnoterapeuta e Palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros, criador do conceito de Hipnoterapia Educativa e Presidente do Instituto Milton H. Erickson de São Paulo. Ministra palestras, treinamentos e atendimentos individuais utilizando esses conceitos.

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