Sempre leio com atenção os seus textos. Você sabe muito bem da minha opinião e, já discutimos diversas vezes quando as nossas idéias conflitaram, o que acho muito saudável. Sempre aprendi muitas coisas com as nossas discussões, e espero, do mesmo jeito, ter colaborado. Do seu artigo "Homens das letras pretas", de público, devo discordar frontalmente. Não nos cabe o direito do feedback sobre o que escrevemos e devemos ter a humildade do exercício de escrever com desprendimento do retorno, afinal ele é imensurável, pois mesmo no silêncio, pode estar o retorno. Sem me considerar um cronista, solidarizo com você o sentimento do incansável aprendiz e por isso divido parte de um texto do Vinicius de Moraes, que não me canso de ler e reler: "... Num mundo doente a lutar pela saúde, o cronista não se pode comprazer em ser também ele um doente; em cair na vaguidão dos neurastenizados pelo sofrimento físico; na falta de segurança e objetividade dos enfraquecidos por excessos de cama e carência de exercícios. Sua obrigação é ser leve, nunca vago; íntimo, nunca intimista; claro e preciso, nunca pessimista. Sua crônica é um copo d’água que todos bebem, e a água há que ser fresca, limpa, luminosa para a satisfação real dos que nela matam a sede. Num momento em que o grande mal de grande parte do mundo é o entreguismo, a timidez e a franca covardia, o exercício da crônica reticente, da crônica vaga, da crônica temperamental, da crônica ególatra, da crônica à clef, da crônica de cartola - é um crime tão grande quanto o de se vender, em época de epidemia, um antibiótico adulterado. A restauração da crônica, no espírito da dignidade com que a praticavam os ’essayistas’ ingleses do séc. XVIII, deveria constituir matéria de funda meditação por parte dos seus cultores no Brasil". De "O exercício da crônica". Setembro de 1953. Vivêssemos mais cinqüenta anos encontraríamos atualidade no "poetinha". Virtude dos iluminados que escrevem com a imensa alma que possuem. Virtude da nossa inquietude e certeza que o mundo pode ser melhor, sempre melhor. Abraço.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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