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Cidades
22/09/2015 - 12h14
Uber: transporte particular à beira da disruptura
Arie Halpern
 

As manifestações de taxistas contra o aplicativo Uber, que tem causado comoção em São Paulo e outras metrópoles mundo afora, são uma amostra eloquente do impacto das inovações disruptivas na sociedade. Essa experiência é matéria de reflexão obrigatória para quem está no mercado e quer permanecer nele.

Primeiro fato a observar: não importa em que ramo você atua, esteja atento às oportunidades e às ameaças que a inovação traz. Taxistas, operando num mercado local, super-regulado, não podiam imaginar, até a chegada do Uber, que seu espaço seria ameaçado por uma empresa estrangeira, vinda do mundo virtual e sem nenhuma relação com transporte.

Segunda observação: quanto mais deficiente o mercado, mais rápida é a migração do consumidor para novos modelos de serviço ou produtos. Por isso, nas megalópoles o Uber progride tão depressa.

Olhemos para Nova York, como para um espelho. Lá os taxistas protegem seu mercado há décadas pelo método convencional: pressão para que a Prefeitura não eleve o número de licenças de operação. Por isso, há apenas 13.600 dessas licenças, que têm a forma de um distintivo de metal aplicado no capô e são conhecidas como medallions. (Para se ter ideia da proeza, em 1937, quando o sistema foi instituído, havia 12.000 licenças.)
 
O Uber desembarcou em Nova York em 2011. Hoje sua frota, de 20 mil carros, supera a dos yellow cabs. Os taxistas viram a clientela diminuir e, para irritação dos patrões da indústria do táxi, o valor do medallion, que ultrapassava a casa de um milhão de dólares, caiu mais de 40% desde o ano passado. A estratégia de proteger o mercado contra o interesse do consumidor começou a ruir solenemente.

Lá, como em São Paulo, os dois serviços estão em pé de guerra. Taxistas reclamam que os concorrentes do Uber não têm de pagar impostos, não têm tabela de preços, e outras obrigações. Têm razão. A inovação também não pode conspirar contra a igualdade de condições na concorrência. O Uber, uma companhia que já vale 40 bilhões de dólares na bolsa, retruca que não se pode brecar um processo de inovação que beneficia o usuário. É verdade também. A conversa apenas começou. Mas, uma coisa é certa, a disruptura já se instalou.


Nota do Editor: Arie Halpern, economista, é diretor da empresa israelense Gauzy Technologies.

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