Um dos maiores pesadelos de qualquer viajante é perder o voo, independente se estiver saindo a trabalho ou passeio, mas a ansiedade é maior quando estamos falando de férias. Mesmo sendo viajantes descolados cometemos erros básicos que podem causar sérios transtornos. Às vezes damos sorte, outras vezes não. Uma vez passeando de carro pelo interior da França, programei retornar para Paris no dia do voo, já que a decolagem seria à noite. Estávamos em Brugges e precisávamos sair ao meio-dia. Primeiro imprevisto: o relógio parou e não percebemos. Segundo imprevisto: passei a entrada do aeroporto e o retorno era bem longe. Mas tudo terminou bem e regressamos ao Brasil em segurança. Fui visitar minha irmã em Paris e combinamos de conhecer Barcelona. Na volta, eu marcara compromissos em Amsterdã, então comprei passagem de outra companhia. Apenas quando cheguei de metrô ao aeroporto me dei conta que não conferira o terminal. Já era meu anjo da guarda avisando que eu estava no lugar errado, dúvida confirmada quando pedi informações ao agente do aeroporto aonde era o check-in da KLM: “senhora, é no outro terminal, espere o ônibus ali fora, demora uns 10 minutos”. Só não fiquei nervosa porque cheguei bem adiantada. Quantas vezes eu for a Milão, vou continuar errando o terminal de embarque. O terminal 1 é o de cargas e o 2 é o de passageiros – ou será ao contrário? Nesses casos, o tempo extra sempre me salvou. Em outra ocasião, estava a caminho de Buenos Aires e não levei passaporte para o aeroporto, afinal de contas, a Argentina faz parte do Mercosul, o documento de identidade seria suficiente. No entanto, eu não me toquei que documento de identidade válido é RG e não CNH. Quando apresentei minha CNH no check-in e não aceitaram o documento como válido, gelei. Meu RG havia ficado em casa. Sorte minha que minha mãe estava em casa e teve tempo e boa vontade de atravessar São Paulo para me entregar a alforria de viagem. E continua acontecendo. Mês passado, voltando de Campo Grande para São Paulo, estava hospedada na casa de uma amiga que disse: “O aeroporto é aqui do lado, pode sair duas e meia, em dez minutos estamos lá.” O voo era 15h30. Quase não embarquei. Até aqui, final feliz. Vocês dirão: nossa, que sorte essa moça tem! Porém, uma ocasião não terminou bem. Voltávamos de Amã, na Jordânia, para Túnis, no último dia reservado para compras, antes de regressarmos a Paris e ao Brasil. Chegamos cedo ao aeroporto para devolver o carro e sentamos numa cafeteria ao lado do raio-X para tomar café da manhã, tranquilas da vida. Vimos uma despachante passar por nós uma, duas, três vezes gritando o nome de algum passageiro atrasado e falamos: ih, esse aí vai perder o voo... Sim, ela estava nos chamando e não percebemos. Num país estrangeiro de língua árabe, como eu podia entender o meu nome falado com aquele sotaque? Não ouvi a chamada para o voo, muito menos o meu nome. Eu confundira o horário de embarque com o de decolagem e só quando passamos pelo raio-X o guardinha nos tirou para o lado e chamou a despachante, que brigou conosco por não termos aparecido. O voo decolara e não havia outro naquele dia. Ela pegou nossos passaportes porque já havíamos feito imigração de saída e nunca mais a vimos. Desesperada, sem entender árabe e eles sem falar inglês, rodei a baiana com os guardas para alguém nos ajudar. Outra moça da empresa apareceu e nos levou à imigração para cancelar o carimbo de saída (nossos passaportes estavam lá), depois à loja para comprar bilhetes para o dia seguinte, e recuperar nossa bagagem. Sozinhas, sem saber para onde ir, nos dirigimos até o balcão de informações turísticas para encontrar um hotel próximo ao aeroporto. Bem pensado, certo? Errado! O rapaz nos enviou uma terceira pessoa num carro luxuoso, pagamos a diária ali mesmo e ele nos levou ao hotel, eu acreditando que éramos VIP. Só quando chegamos ao hotel, percebi que o “motorista” era um intermediador que ganhou comissão por ter indicado o local. Fiquei tão nervosa e decepcionada comigo naquele dia que não quis sair para explorar outros cantos de Amã. O hotel era longe da cidade e já estava me sentindo uma nota de dólar ambulante. Preferimos descansar e aguardar o próximo dia, quando enfim regressamos sãs e salvas. Virou história de viagem. Agora, recordando o momento, só ficamos tristes pelas compras que não fizemos em Túnis. Alguns conselhos básicos que merecem ser repetidos sempre: · Programe-se para sair de casa ou do hotel com antecedência maior do que a necessária. Conte com imprevistos como engarrafamento ou acidentes no percurso, furo no pneu, uma blitz e, até mesmo, um relógio parado. O despacho de voos internacionais começa de 2 a 3 horas antes da decolagem, então planeje chegar ao aeroporto com hora extra para encontrar a área de check-in correta, fazer os trâmites e ainda sobrar tempo para compras e comidinhas. · Confira antes de sair de casa qual é o aeroporto correto. Pode parecer brincadeira, mas já ouvi histórias de passageiros que deveriam estar no Aeroporto de Orly, na França, e se apresentaram em Charles de Gaule. Zero chance de embarcar naquele voo. · Verifique também o terminal de embarque do seu voo. No exterior, os aeroportos das grandes metrópoles são gigantes e errar o terminal em cidades como Miami, Los Angeles e Cingapura pode ser fatal. · Permita que mais de uma pessoa do grupo confira o horário de embarque, para não confundir com o horário de decolagem. Deixar toda a responsabilidade nas mãos de uma só pessoa aumenta as chances de erro. Redobre a atenção em cidades estrangeiras porque a probabilidade de você entendê-los chamando o voo ou seu nome com aquele sotaque carregado é praticamente nula. · De tempos em tempos, confirme se não houve mudança no seu portão de embarque. Fique atento aos avisos luminosos e consulte os despachantes da empresa que estão sempre por ali. · Esteja na sala de embarque, na frente do portão do seu voo, antes do horário recomendado na passagem. Longas filas no raio-X e na imigração, bem como as distrações das lojas duty-free, são motivos que fazem as pessoas ficarem para trás. Leia um livro, veja fotos ou observe o tráfego das aeronaves no pátio para passar o tempo. · Nunca, em hipótese nenhuma, compre voos com conexão inferior a quatro horas. A probabilidade da Lei de Murphy acontecer no seu voo é grande: atrasos na decolagem, desvios de rota em virtude de mal tempo, longas distâncias para percorrer no terminal entre um portão de embarque e outro. O horário de chegada informado pela empresa é o de pouso e, dependendo do aeroporto, o taxiamento e desembarque podem levar até meia hora. Os voos são encerrados com 30 minutos de antecedência e, se você comprar um voo com intervalo de conexão de uma hora, significa que já perdeu o voo. · Caso o seu objetivo seja fazer um cruzeiro, compre as passagens aéreas para um ou dois dias antes da saída do navio. Se houver cancelamento ou atraso no voo, você perderá o passeio. A mesma ideia se aplica às passagens de trem ou voos internos. · E lembre-se: você está viajando a passeio, evite passar por aborrecimentos desnecessários, uma ou duas horas a menos no último dia de passeio não farão diferença. Boa viagem! Nota do Editor: Adriana Lage é editora do portal de viagem Shop & Travel Guides (shopntravelguides.com) e elabora roteiros de viagem há 20 anos.
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