Recentemente, o governo chinês deu um grande passo para consolidar sua parceria comercial com o Brasil. De uma só vez, foram assinados 35 acordos bilaterais que abrangem oito áreas distintas. Mesmo que, em alguns casos sejam memorandos de entendimento, existe a real intenção dos chineses em entrar com dezenas de cooperações de investimentos e isso pode ser considerado um avanço importante em áreas da indústria brasileira como agricultura, óleo e gás, mineração, ferroviária, aviação, energia eólica, financeira, telefonia, entre outras. Trata-se de um movimento que se intensificou três, quatro anos atrás quando o país asiático passou a ter a sua atenção voltada para cá e nomeou um novo embaixador de alto escalão para o Brasil. Mas a parceria começou a ser delineada em 1974 quando os dois países passaram a ter relações diplomáticas. Já em 1995, foi feita a declaração do Brasil de apoio à entrada da China na OMC. Em 2000, a China torna-se parceira comercial do Brasil na Ásia, e em 2006, compra cem aviões brasileiros. Já em 2013, acontece um encontro dos presidentes dos dois países na V Cúpula dos Brics, na África do Sul. Nos últimos dez anos, a China protagonizou uma ascensão notável e aos poucos vai redesenhando a ordem econômica global ao triplicar de tamanho desde 2005. Com aproximadamente um sétimo da população mundial, a demanda por bens agrícolas e outras commodities do país asiático segue numa tendência de aumento constante. Brasil e China mantêm importantes fluxos de investimentos bilaterais. As trocas comerciais entre os dois países alcançaram US$ 77,9 bilhões em 2014, com superávit brasileiro de US$ 3,3 bilhões e espera-se intensificar essa parceira bilateral. Do lado brasileiro, destacam-se os setores aeronáutico, bancário, mineral e agronegócio. Tem-se observado, também, diversificação dos investimentos chineses no Brasil para setores de energia, eletrônicos, automotivo, engenharia e bancário. Por outro lado, ela é a maior consumidora de minério de ferro do Brasil, além de soja, combustível e celulosa. Para se ter uma ideia das fortes intenções da China em fortalecer seus negócios por aqui, o Brasil é o único do mundo entre as nações em desenvolvimento a ter uma filial de cada um dos cinco grandes bancos chineses: Industrial and Commercial Bank of China (ICBC), Bank of China, China Construction Bank (CCB), Bank of Communications e China Development Bank. Apesar do momento econômico em que o Brasil está passando e da desvalorização do real diante do dólar, os chineses mantêm firme as suas apostas no país verde e amarelo. É um momento que eles enxergam oportunidade de cooperação com empresas brasileiras. Um exemplo de que querem se fincar em terras canarinhas é que os chineses concretizaram negócios ou andam sondando empresas em mais de 40 setores da economia brasileira. Há cerca de 300 comitivas distintas chinesas por ano visitando o Brasil. Além dos investimentos e das parcerias comerciais, a China também está de olho na posição geográfica do Brasil. Por isso, pretende usá-lo como hub logístico para distribuição na América do Sul em países como Chile, Argentina, Equador, Peru, entre outros. A estratégia da segunda maior economia do mundo é também avançar em diferentes países como forma de diversificar o risco e expandir a carteira de crédito. Para continuar a avançar e manter a sua posição, a China agora tenta percorrer um caminho diferente, mais focado na qualidade e tecnologia. Por isso, o desenvolvimento tecnológico ganhou papel central no novo modelo econômico da China. Na mesma semana em que assinava acordos com o Brasil, o governo chinês lançou um plano agressivo de modernização da indústria com vistas à 2025. Em dez anos, espera-se revolucionar os produtos fabricados no país e exportados para o mundo todo, aumentando ainda mais o número de patentes (no mundo, a China já é atualmente um dos países líderes em pedido de patentes) e investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). O foco se dará na indústria aeronáutica, navios avançados, ferrovia, novos materiais, medicina, energia, próxima geração de tecnologia de informação e agricultura. Tudo isso com um mercado crescente de classe média, que consome cada vez mais produtos e serviços. Nota do Editor: Daniel Lau é diretor da Prática Chinesa da KPMG no Brasil (kpmg.com/BR).
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