Zig Koch      Fêmea de bicudinho-do-brejo.

A nova espécie pertence a um gênero com grande risco de extinção por isso a constatação do bicudinho-do-brejo-paulista é um grande alento.

Ponho-me a imaginar se em 2005 ainda estamos descobrindo novas espécies em lugares densamente povoados, locais de intensa exploração mineral, com toda facilidade de visitação e exploração, quantas coisas ainda temos para descobrir em matas iguais aos 80% da área do município de Ubatuba.

No ano de 1995, Ariovaldo Giaretta, biólogo pesquisador da Unicamp, descobriu um novo gênero (note bem) de sapo em Ubatuba. Diferente dos que conhecemos, este nasce com a aparência do adulto, não passa pela fase do girino. Necessita de uma temperatura constante e quase que exata para sobreviver, por isso só é encontrado na faixa compreendida entre 400 e 800 metros de altitude. A conformação geográfica dos nossos morros impôs um isolamento das espécies, e ao modo da ilha de Páscoa e confirmando Darwin, provocou o surgimento deste novo gênero. O tamanho adulto do sapinho não atinge 2 cm e o nome dado foi anurus capricornius graças a oportunidade que tive de insistir durante o batismo.

Volto a imaginar a quantidade de plantas, insetos, aves e animais extintos sem a mínima anotação. Ao ver espécies conhecidas sendo extintas para cederem lugar ao animal homem, imagino a imensa quantidade das espécies que continuam a desaparecer. Arrisco até um paralelo com o tráfico de espécies que precisa de dez indivíduos para colocar um único à venda e concluo que, para cada nova descoberta dezenas desaparecem sem deixar vestígios da sua existência.

Por outro lado, prolifera entre a raça humana a espécie que provoca a degradação pela omissão dos seus deveres, seja pela consciência que deveria ter, seja pelo salário que recebe para fazer o que não faz. A grande maioria dos ambientalistas de carteirinha acha mais fácil empurrar o problema com a empáfia adquirida por anos e anos de sedentarismo mental ou acomodados em um título universitário.

O mundo segue descobrindo espécies e Ubatuba segue destruindo e extinguindo com o beneplácito das autoridades e dos ditos e tidos como competentes.

Do Stymphalornis acutirostris da espécie paulista restam setenta indivíduos que foram salvos numa operação conjunta entre USP e o Ibama.

A iodopleura pipra e seus menos de cinqüenta indivíduos moradores de Ubatuba estão sendo dizimados graças a uma operação conjunta entre a descarada omissão dos nossos ambientalistas assalariados, a desmedida exploração imobiliária e a descontrolada importação de eleitores de vereadores ignorantes. Estamos trocando imensas riquezas biológicas de valor mundial pelas piores espécies do gênero humano.