Às vezes é preciso Arrancar os sapatos Colocar os pés no chão Sentir a aspereza da terra Sem medo de pisar Sobre os grãos Sobre os cacos Sobre os restos Dos galhos mortos É preciso despir-se Do solado artificial Tornar-se natural Porque é assim Que viemos ao mundo Sem nada Sem vestes Sem calçados Sem armaduras É preciso resgatar O contato com o puro Que embora nos pareça duro Pode trazer de volta a leveza E a única certeza De que é no chão que a vida começa É para o chão que ela regressa Então, pra quê orgulho?