A elevação da taxa básica de juros a 12,75%, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), associada aos demais itens do “custo Brasil”, como os impostos, gastos públicos supérfluos e o alto preço da infraestrutura, agrava a crise econômica enfrentada pelo País. O mais grave é que não se vislumbra a solução nem a retomada do crescimento. Na verdade, não se vê a luz no fim do túnel e parece que tudo pode acontecer na presente conjuntura brasileira, na qual as adversidades econômicas convivem em absoluta desarmonia com uma crise política causada por episódios lamentáveis, como o “petrolão”, e um crescente desentendimento entre o governo e a sua própria base de sustentação no Congresso Nacional. É preocupante a rapidez com que o cenário econômico e político está se deteriorando. Em apenas três meses, a taxa de juros atingiu o patamar que as estimativas de janeiro apontavam como máximo para o ano. As projeções de retração de 0,5% no PIB e de 0,35% na indústria saltaram para crescimento negativo de 0,58% e 0,72%, respectivamente. O câmbio mostra-se descontrolado, com oscilações em larga amplitude, em um único dia, indicando que os oportunistas da ciranda financeira globalizada já perceberam que a economia brasileira é presa fácil para ataques especulativos, o que expõe nosso mercado financeiro ao apetite dos predadores que caçam no ambiente sombrio do oportunista capital apátrida. A essa rede de equívocos, somaram-se a crise entre Congresso e Executivo, inclusive devido à redução da desoneração da folha de pagamento das empresas (outro fator agravante do custo de produção); a falência moral de um governo cercado por episódios de corrupção; e a concreta possibilidade de o Brasil ser rebaixado na sua classificação de risco. Estamos diante do que parece uma alegoria assustadora do mais sinistro ambiente de negócios da história recente do Brasil. A economia está em queda livre e o setor produtivo encontra-se cada vez mais comprimido em sua capacidade de trabalhar, planejar, investir e gerar empregos. Em um cenário tão inóspito, a indústria gráfica será fortemente apenada. Somos um setor sensível ao desempenho global da manufatura e do consumo. O recuo na desoneração da folha do segmento de embalagens, os juros estratosféricos e a variação cambial impactando negativamente insumos, como papel e chapas, não deixam dúvidas: teremos uma performance negativa, com baixo investimento e alto desemprego. Tais perspectivas repetem-se em numerosas áreas da indústria de transformação, cuja competitividade despenca por fatores alheios à sua competência técnica e de gestão, tanto no mercado interno quanto no comércio global. O Brasil precisa de soluções urgentes, pois o presente thriller real a que estamos assistindo faz parecer ficção até mesmo a mais tênue esperança de que poderemos voltar a crescer. Nota do Editor: Levi Ceregato é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional).
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