Cerimônia aconteceu no cemitério Gethsêmani, na zona sul paulista. Amigos, familiares e artistas deram último adeus à cantora e apresentadora do Viola, Minha Viola
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A cantora e apresentadora do Viola, Minha Viola, Inezita Barroso, foi sepultada ontem [9], por volta das 17h, no cemitério Gethsêmani, na zona sul de São Paulo. A cantora faleceu na noite do último domingo (8/3) em decorrência de uma pneumonia, no Hospital Sírio Libanês. Em 4 de março, ela havia completado 90 anos de vida. Ao longo da manhã e da tarde desta segunda-feira, milhares de pessoas, entre autoridades, artistas, familiares, amigos e fãs, foram à Assembleia Legislativa de São Paulo para se despedir de Inezita. Autoridades como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Chico Sardelli, além de artistas como Paulinho (da dupla César e Paulinho), Lourenço e Lourival, Donizete, Léu e Rolando Boldrin, além de outros representantes do cenário musical caipira, participaram do velório. O presidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça, e o presidente do Conselho Curador da FPA, Belisário dos Santos Jr., além dos funcionários da Rádio e TV Cultura, onde a apresentadora comandou o Viola, Minha Viola por quase 35 anos, também estiveram presentes. Segundo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a luta de Inezita pela preservação da cultura caipira se conecta com a origem da cultura brasileira. “Ela resgatou um ativo extraordinário de todos nós, brasileiros, e que forma a nossa nação e as nossas raízes”, declara. “A nossa cultura, a brasilidade e a nossa tradição dependeram muito do trabalho que ela desenvolveu. É graças a ela que temos essa pujança, essa força na nossa música de raiz”, afirma Marcos Mendonça, presidente da FPA. “Fica esse misto de tristeza pela perda física, mas o misto também de alegria por tudo que ela fez e deixou”, afirma Chico Sardelli, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo. Para a família, ela cumpriu a missão em defesa da cultura popular e deixa um legado para a próxima geração. “O que ela começou a semear de cultura brasileira, de viola e música caipira, que as pessoas que estão aí continuem o trabalho dela”, diz Marta Barroso, filha da cantora, que ainda salienta o fato de a mãe ter falecido no Dia Internacional da Mulher. “Morrer no Dia da Mulher não foi por acaso. Até para morrer ela escolheu uma data marcante”, conclui. Seguem outros depoimentos: Joãozinho, violeiro do grupo Regional Viola, Minha Viola: “Com grande dignidade, a Inezita foi fiel à música de raiz. Durante toda a vida se dedicou a sua pesquisa e divulgação”. Donizeti, cantor: “Sou artista desde criança e minha primeira aparição foi no Viola. Eu adorava a Inezita. A gente tinha uma amizade muito boa. Ela fez 90 anos e cumpriu dignamente a cultura caipira, que ela tanto defendeu”. Léu, da dupla Liu e Léu: “Inezita, você faz parte da nossa vida e de todos os sertanejos. E nós vamos continuar te adorando, te amando, como sempre foi. Que Deus te dê muita luz e te proteja”. Lourenço e Lourival: “Inezita representou tudo para a música sertaneja. Devemos a Deus e a ela a nossa carreira”. Eduardo Suplicy, atual secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo: “Inezita Barroso foi uma extraordinária artista, cantora, compositora. Desde menino sempre apreciei quando ela cantava Lampião de Gás, Marvada Pinga e tantas outras músicas bonitas do folclore brasileiro. Ela merece esse carinho tão significativo do povo que veio aqui dar seu último adeus”. Belisário dos Santos Jr., presidente do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta: “Não é só a música brasileira que perde, é a cultura e o mundo das artes. Não há quem possa substituí-la. Temos que ter a sabedoria para preencher essa lacuna. Temos que ser os herdeiros de sua sabedoria para continuar seu trabalho”. Inezita Barroso, a grande dama da música de raiz Ignez Magdalena Aranha de Lima, nome de batismo de Inezita Barroso, nasceu em 4 de março de 1925, no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Filha de família tradicional paulistana, passou a infância cercada por influências musicais diversas, mas foi na fazenda da família, no interior paulista, que desenvolveu seu amor pela música caipira e pelas tradições populares. Formada em Biblioteconomia na USP (Universidade de São Paulo), Inezita foi uma grande pesquisadora da música caipira brasileira. Por conta própria, percorreu o interior do Brasil resgatando histórias e canções. Reconhecida por este trabalho, foi convidada a dar aulas sobre folclore em uma universidade paulista. Pelo seu trabalho como folclorista, e por ser uma enciclopédia viva da música caipira e do folclore nacional, recebeu o título de doutora Honoris Causa em Folclore pela Universidade de Lisboa. O nome artístico foi criado aos 25 anos, quando ela juntou seu apelido de infância, Inezita, ao sobrenome do marido, Barroso. A artista Inezita Barroso era cantora, instrumentista, folclorista, atriz e professora. Começou a cantar e estudar violão aos sete anos. Depois, começou com viola e piano. Tomou gosto pelo universo rural já nos primeiros anos de sua vida e na adolescência realizou recitais e shows. Sua primeira gravação em disco foi realizada no ano de 1951 pela gravadora Sínter. A partir daí, Inezita gravou cerca de 100 discos. O primeiro DVD musical da dama da música de raiz, Inezita Barroso – Cabocla Eu Sou, foi lançado em dezembro de 2013 e sintetiza os mais de 60 anos de carreira da cantora. É uma das cantoras mais premiadas do Brasil, sendo detentora de mais de 200 prêmios, entre eles o Prêmio Sharp de Música na categoria Melhor Cantora Regional, o Grande Prêmio do Júri do Prêmio Movimento de Música, em homenagem aos 47 anos de carreira, e o Prêmio Roquette Pinto como Melhor Cantora de Rádio da Música Popular Brasileira. Sua longa carreira foi coroada com o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 2010, e com a escolha de seu nome para ocupar uma das cadeiras da Academia Paulista de Letras, em 2014. Inezita seria empossada oficialmente em meados de março deste ano. Em 2009, Inezita recebeu do governo do Estado de São Paulo o título vitalício de Grande Oficial pelo compromisso com as raízes culturais do país e pela contribuição significativa para o entretenimento dos brasileiros. Na tevê, sua carreira começou junto com a TV Record, onde foi a primeira cantora contratada. Depois, passou pela extinta TV Tupi e outras emissoras, até chegar à TV Cultura para comandar o Viola, Minha Viola. Na rádio, Inezita esteve à frente de microfones da Record, USP e Rádio Cultura AM, onde apresentou, por 10 anos, o programa diário Estrela da Manhã. O começo de tudo O mais antigo programa de música da TV brasileira no ar, O Viola, Minha Viola estreou no dia 25 de maio de 1980, com apresentação de Moraes Sarmento (1922-1998) e Nonô Basílio (1922-1997), nos estúdios da TV Cultura, na Barra Funda. A partir da terceira edição, em junho, Inezita Barroso passou a participar da atração como convidada fixa e logo já conquistou a simpatia do público. Meses depois, em agosto, Nonô deixou o programa e Moraes ganhou como parceira a mulher que, anos mais tarde, tornar-se-ia a dama da música caipira no País. Nessa época, a atração também ganhou espaço exclusivo: mudou-se para o Auditório Franco Zampari, na região da Luz, em São Paulo. Durante algum tempo, o Viola foi itinerante e viajou por diversas cidades do interior paulista, voltando, mais tarde, a fixar-se no Zampari. Inezita Barroso gravou mais de 1500 edições do Viola, Minha Viola, voltado a modas de viola, música de raiz, lendas e danças folclóricas. Tendo se tornado um verdadeiro centro da tradicional música de raiz, ao longo dos anos, o palco do Viola recebeu os maiores astros do gênero, como Tonico e Tinoco; João Pacífico; As Galvão; Pedro Bento e Zé da Estrada; Cascatinha e Inhana; Milionário e José Rico; Tião Carreiro e Pardinho; Almir Sater; Daniel; Chitãozinho & Xororó; Renato Teixeira: Sergio Reis; entre muitos outros célebres do cenário musical caipira.
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