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Internacional
22/04/2005 - 15h02
Três presidentes depostos em dez anos
Gabriela Guerreiro - ABr
 

A queda de um presidente no Equador é um fato recorrente na história recente do país. Lucio Gutiérrez foi o terceiro chefe de Estado em menos de dez anos a ser deposto do poder sem completar o mandato. Ele assumiu a presidência em 2000, depois de liderar uma revolta popular com o apoio de indígenas e camponeses que conseguiram tirar do poder o então presidente Jamil Mahuad. Em 1997, o ex-presidente Abdalá Bucaram também foi deposto seis meses antes de terminar o mandato depois de sofrer impeachment do Congresso.

Lucio Gutiérrez se tornou conhecido no Equador ao apoiar os protestos contra Jamil Mahuad, deposto por denúncias de corrupção e rigidez na política econômica do país. Militar, Gutiérrez caiu nas graças dos equatorianos ao apoiar as manifestações contra Mahuad ao invés de contê-las. O coronel Gutierréz, no entanto, nunca admitiu ter comandado um golpe de Estado para tirar o presidente da República do poder. "Um golpe de Estado é feito pelas elites políticas, militares ou econômicas. Aqui, o povo se rebelou", disse Gutierréz à época dos protestos. O vice-presidente de Jamil Mahuad, Gustavo Noboa, acabou assumindo a presidência em 2000.

Em 2002, Gutiérrez concorreu à presidência da República pelo partido Sociedade Patriótica, depois de ficar preso alguns meses por liderar manifestações políticas. Ele se elegeu presidente em segundo turno com 55% dos votos e assumiu a presidência da República em 2003.

Os protestos contra Gutiérrez se arrastam há alguns meses, desde que o agora ex-presidente adotou medidas consideradas ortodoxas e manifestou publicamente apoio à criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A gota d’água foi a anulação de processos pela Suprema Corte do Equador contra o ex-presidente Abdalá Bucaram. Os juízes que anularam os processos foram indicados por Gutiérrez à Suprema Corte. A decisão permitiu que Bucaram retornasse ao país após oito anos de asilo político no Panamá, o que provocou a ira da sociedade equatoriana.

Os segmentos que apoiaram Gutiérrez durante as manifestações que resultaram na deposição de Jamil Muhad foram os mesmos que, nas últimas semanas, conseguiram reunir forças para tirá-lo do poder. A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) chegou a divulgar nota oficial para afirmar que Gutiérrez é "traidor" e defensor de práticas neoliberalistas em consonância com os interesses dos Estados Unidos. "Mais do que nunca é o momento de não retroceder e de exigir que todos vão embora, com Gutiérrez à frente, junto com o neoliberalismo, o Tratado de Livre Comércio, o Plano Colômbia e as empresas transnacionais petrolíferas", disse a direção da Conaie na nota oficial.

Gutiérrez chegou a decretar estado de emergência em Quito em 15 de abril para conter os protestos, mas um dia depois teve que recuar da decisão diante da pressão popular. No mesmo dia, ele determinou a dissolução da Suprema Corte, mas a medida foi considerada como ilegítimo abuso de poder. O Congresso, no entanto, acabou aprovando a destituição dos 31 juízes da Corte. Com a intensificação dos protestos, Gutiérrez foi destituído dia 20 do poder pelo parlamento equatoriano por "abandono de cargo".

O Congresso nomeou o vice-presidente Alfredo Palacio para comandar o país. As Forças Armadas acataram a decisão do Legislativo e retiraram o apoio ao presidente destituído.

Palácio e Gutiérrez já haviam rompido relações após o início dos protestos. No discurso de posse, o novo presidente equatoriano atacou Gutiérrez e considerou a troca de poder uma vitória do povo. Palácio determinou o fechamento das fronteiras do país.

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