Em 1812 os Estados Unidos, por causa das odiosas "ordens do conselho" baixadas pelo governo de sua majestade em Londres, declararam guerra contra a Inglaterra. As ordens já haviam sido revogadas um dia antes da declaração de guerra, mas a notícia da revogação demorou a chegar e a guerra teve início em território norte-americano. Dois anos depois, em 1814, na beira do Mississipi, a unidade comandada pelo General Andrew Jackson foi praticamente dizimada, exatamente um dia depois da assinatura do tratado de paz de uma guerra que se iniciou sem razão e se prolongou por falta de comunicação. Claro que as deficiências de comunicação daquela época tornam perfeitamente plausíveis as atitudes e as mortes decorrentes. Na guerra mundial de 1940, um soldado japonês, cujo avião fora abatido, encontrou abrigo numa das ilhas Fiji e ali permaneceu escondido durante 20 anos. Quando foi encontrado resistiu bravamente à "prisão" e custou faze-lo entender que a guerra havia acabado e muito mais a convencê-lo de que o Japão saíra derrotado. Nas ultimas eleições em Ubatuba, certa noite correu um boato que um determinado candidato havia sido baleado durante um discurso. Dia seguinte pela manhã, todas as delegacias do litoral receberam um comunicado da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo para averiguarem e informarem, urgente, em qual das cidades havia ocorrido o suposto atentado. Condição sine qua nom do boato é que ao repassá-lo devemos acrescentar mais algum detalhe picante ou pitoresco, senão, não é boato. No caso do candidato supostamente baleado, todo começou com o estouro inadvertido de um rojão, foi em São Sebastião e o cerco policial montado chegou até Ubatuba. Mixirica é uma palavra tupi e quer dizer aquele que vai longe, referindo-se ao cheiro característico da fruta, exalado pela casca comprimida quando ofendida ou pelo ato do descascar. O termo mixiriqueira ou fofoqueira, vem daí. A História comprova em todos os tempos o poder que um boato tem em se espalhar. É interessante que no caso da mixirica o cheiro permanece nas mãos daquele que a manuseou. No caso do boato é quase que impossível localizar a fonte inicial, todos os portadores do boato se apresentam como simples veículos da informação sem necessidade de comprovação. O boato é antes de tudo a arma do fraco, dos oportunistas e dos levianos. Soltar uma informação sem a mínima necessidade de comprovação e com a certeza que a fonte jamais será localizada, revela desvio de caráter e personalidade doentia. Pior ainda quando o boato surge da necessidade da manutenção de uma direção incompetente. Quando da necessidade de esconder a própria incapacidade é mais fácil dizer: Ele quer o meu lugar! Mutatis mutantis: Eles fariam melhor que eu. PS. O recente Habemus Pontificiem ressuscitou meu parco latim.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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