Já estamos na metade de abril e a grande maioria dos empresários da construção civil constata que a atividade do setor segue muito aquém de seu potencial para contribuir com o crescimento expressivo do PIB. É o que comprova o nível de emprego nesse setor. No primeiro bimestre deste ano, foram abertos apenas 12,7 mil empregos formais - menos de duas vagas por município, em média. O número não foi suficiente para repor os 49,5 mil postos de trabalho fechados na construção em novembro e dezembro de 2004. No Estado de São Paulo, no primeiro bimestre, as 5,5 mil vagas abertas no setor também não foram suficientes para repor as 7,5 mil fechadas no último bimestre de 2004. Na capital paulista, quarta maior metrópole do mundo, em fevereiro, o nível de emprego cresceu apenas 0,5% sobre janeiro, com a abertura de 1,9 mil vagas. O déficit habitacional no país continua elevado: 7,2 milhões de famílias. Demanda por habitação teoricamente não falta - embora a grande maioria dessas famílias já se arrumou de um jeito ou de outro. As carências em nossa infra-estrutura continuam enormes. Precisamos reformar ou construir novas estradas, escolas, postos de saúde etc. Pouco vem sendo feito. Dizem que haverá mais financiamentos à construção. Os bancos privados afirmam estar dispostos a conceder, neste ano, 30% a mais de financiamentos imobiliários com recursos da Poupança do que no ano passado. O governo federal e alguns estados e municípios prometem mais recursos para habitação popular e saneamento básico. Espera-se que essas intenções vinguem. Mas, ao mesmo tempo, o governo federal repete à exaustão que busca um superávit cada vez mais elevado, e continua sem racionalizar seus gastos. O endividamento de estados e municípios também não permite folga para grandes investimentos. A exemplo dos anos anteriores, os entes públicos poderão investir em habitação e infra-estrutura menos do que prometeram. A alternativa de viabilizar mais investimentos por meio das PPPs (Parcerias Público-Privadas) caminha lentamente. Os primeiros contratos a serem assinados deverão se transformar em obras apenas em 2006. Na habitação, ainda faltam ajustes para que mais famílias possam ter acesso aos financiamentos. Baixar juros e alongar prazos ajudaria a construção de um número maior de moradias. O fator decisivo para a retomada da construção será o nível de investimentos na economia. Se ele se mantiver em crescimento constante, isso beneficiará o setor. Afinal, cerca de dois terços dos investimentos feitos no país passam pela construção. Essa retomada, entretanto, não acontecerá num cenário de juros altos. Nesse sentido, as notícias sobre as expectativas de crescimento da inflação não podem servir de pretexto para novas elevações da taxa de juros. Afinal, já sabemos há muito tempo que o efeito desse remédio só faz o doente piorar. Nota do Editor: João Claudio Robusti é presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Construção).
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