O Brasil vive momento curioso no campo da mobilidade. Por um lado, as notícias apresentam o entusiasmo com os novos investimentos que continuam a aportar em nosso País e a incrível representatividade do nosso mercado que atrai praticamente quase todos os players mundiais do setor. Até mesmo o programa Inovar-Auto, lançado pelo governo, tem seu espaço no rol de boas soluções e forças do mundo do automóvel. Por outro lado a dificuldade de prever cenários, sobre a qual o governo tem sua cota de influência, o volume desanimador das exportações e a queda de produção e vendas domésticas empurram ladeira abaixo o humor dos negócios, por vezes cerceando iniciativas de sucesso e pondo em cheque os que apostaram no mercado e no País. Temos uma indústria pujante capaz de produzir localmente com tecnologia e competência os mais variados bens de consumo. O respeito internacional também existe e é mister em alguns segmentos específicos, como o aeroespacial. Mas existe também o risco. Temos de observar com atenção as tendências que nos desafiam para manter a força industrial brasileira. O consumo de máquinas e equipamentos de base, “máquinas que fazem máquinas”, tem sofrido redução no crescimento nos últimos anos. Uma das maiores perdas está na produção nacional de bens de capital mecânicos, uma ameaça à sobrevivência desse setor-chave para a cadeia da indústria. Em determinados segmentos observa-se ainda a tendência de substituição da produção nacional por importados, com consequências como a perda de produtividade e a falta de modernização do parque industrial localizado. Esses efeitos podem ser transferidos em cascata para os setores de bens de produção em massa, com risco à capacidade do País de se manter entre os mais industrializados do mundo. Outras nações não estão paradas e são concorrentes diretas do fabricante local, que atualmente não desfruta das melhores condições de competitividade. Precisamos agora de objetivos e metas permanentes, e de fazer uso de instrumentos de medição conjuntural de médio e longo prazo. O investidor só arrisca seu capital quando encontra estabilidade bastante para isso. O Brasil tem competências que sustentam a sua indústria – crescimento sustentável, inovação tecnológica e competitividade –, que talvez só precisem de coordenação adequada. Desenvolver a capacidade de orquestrar iniciativas com mais eficiência, com um projeto de integração entre universidade e indústria, pode ser um caminho. Boas ideias surgem no meio acadêmico, mas não é nele que se dá o desenvolvimento, cabe à indústria transformar o protótipo desenvolvido na universidade em um produto de mercado. Só assim acontece na prática o desenvolvimento tecnológico local. A cada ano instituições de ensino brasileiras formam mão de obra qualificada, mas não se observa a atração desses jovens pela indústria. Com capacidade de aplicar conhecimento eles estão em busca de desafios, querem participar do fomento de projetos novos. Em um cenário como esse a contribuição da engenharia é fundamental para minimizar a necessidade de busca de projetos de fora do País. A fixação de engenheiros na indústria e a atualização do parque nacional viajam em paralelo com o fomento da inovação local, para a eliminação de lacunas tecnológicas e o surgimento de produtos novos e avançados. As tendências-chave para o planejamento 2015 estarão na pauta do 11º Simpósio SAE BRASIL de Tendências, promovido pela Seção Regional de Minas Gerais, cujo tema é “Brasil, uma Força Industrial?”. O evento será realizado no dia 6 de novembro, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10, Funcionários), em Belo Horizonte, Minas Gerais. Nota do Editor: Felipe Madeira é engenheiro e chairperson do 11º Simpósio SAE BRASIL de Tendências.
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