A era virtual navega entre fronteiras, viaja na sociedade do espetáculo, desbrava territórios que eram desconhecidos, funda novos meios de comunicação e ancora-se na procura da realização de desejos. Ao mesmo tempo em que o virtual aproxima quem até então quase não se falava, insere as pessoas em um círculo social, abre novas portas e resgata contatos antigos, ele também afasta a sociedade das relações verdadeiras, excluindo o contato físico dos relacionamentos. Afinal, na virtualidade não se fala, se manda um Whatsapp; não se faz debates e nem há conversas sobre temas que estão em alta, há posts no Facebook; não se faz mais visitas, apenas se vê os amigos e parentes por meio de fotos postadas no Instagram; não se indica músicas, você apenas as coloca no Spotify; não é importante ir a algum lugar pelo prazer que ele te oferece, mas sim pela chance de check-in no Foursquare; não há a espera pelo acaso que pode colocar alguém diante de nós no lugar mais inusitado, procura-se o Tinder; ou seja, não se ama, se programa. Este mundo virtual em que a sociedade contemporânea finca seus pés é um meio de falsa realização de desejos, de maneira que se tenta trazer para o plano virtual o que é impossível de ser conquistado no mundo real. “A felicidade constante, os inúmeros amigos e a permissividade sem limites só ‘existe’ e pode ser materializada através das redes sociais que tentam preencher um mundo cheio de vazio”, afirma Lourdes de Paula Gomes, a psicóloga e diretora da FACIS – Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo (www.facis.edu.br). É na busca por preencher o vazio estrutural que carregamos conosco desde sempre, que nos apoiamos no olhar do outro, de maneira em que a aprovação deste é mais importante do que a nossa. E hoje, essa avaliação do outro sobre nós é realizada através das redes sociais. “As pessoas consideram o virtual como termômetro do real, ou seja, são mais queridas de acordo com o número de amigos que têm no virtual, são mais ‘cool’ se tiverem mais ‘curtidas’ nas redes sociais etc. Elas confundem os dois mundos, de forma que o virtual passa ser mais real que a realidade. Assim, é necessário observar se você está programando ou está sendo programado pelas redes sociais. Verificar se elas que estão ditando as regras que devem ser seguidas na vida, pois do outro lado da tela há uma ‘patrulha’ que controla e avalia a vida virtual que é a representação do sujeito, ou seja, aquilo que ele pretende ser”, complementa a psicóloga. Dessa forma, as novas mídias sociais viraram um santuário narcísico, que tem em seus altares a vida debruçada para que os outros façam reverências. “Há uma superexposição da vida pessoal nas redes sociais que é fruto da confusão entre o público e o privado. É preciso cuidado ao traçar os limites do que de fato deve ser exposto e também controlar as horas que se gastam nessas novas mídias, pois muitas vezes passa-se mais tempo nas redes do que na vida real”, finaliza Lourdes de Paula Gomes.
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