Feriado desde 1997, marca a memória do Estado de São Paulo. Nove de julho é comemorado em lembrança a um dos principais episódios da história do Estado, o levante denominado “Guerra Paulista” ou Revolução Constitucionalista de 1932. A população de São Paulo encarou, naqueles tempos, uma empreitada militar contra as tropas do governo federal, no período que se estende de julho a outubro de 1932. A reivindicação girava em torno da destituição do governo provisório de Getúlio Vargas (no poder desde a Revolução de 1930), a reabertura do Congresso Nacional e a promulgação de uma nova Constituição Federal. Getúlio Vargas havia abolido a Constituição e fechado o Congresso Nacional. O resultado da guerra não foi positivo para São Paulo, as tropas paulistas foram sufocadas pela superioridade das tropas federais, compostas pelos outros estados brasileiros, entretanto, apesar da derrota, no ano de 1934, o governo federal promulga a Constituição, atingindo, mesmo que dois anos mais tarde, o objetivo do levante. Entretanto, vale ressaltar que o acontecimento não se restringiu somente às questões políticas, pertence simbolicamente à formação da identidade paulista. Desde o final do século XIX, São Paulo enriquecido pelo café, investe na sua imagem de “carro chefe” do país. Sob o signo da industrialização, da confraternização entre trabalhadores nacionais e estrangeiros imigrantes, forja a ideia de cidade pioneira dos Bandeirantes, de indivíduos destemidos, trabalhadores e fortes. Essa construção provoca no imaginário social da maioria dos seus habitantes, o entendimento de que a cidade era a mais civilizada e conectada com os valores da ordem e progresso da época. Construía-se a vocação cosmopolita, de cidade dos arranha céus, que mais cresce e moderna contra um Brasil atrasado e arcaico. Esse sentimento e de união durante o episódio, recriava o “espírito de paulistanidade”. Em 1932, o poder ideológico das elites regionais de São Paulo reforçava os discursos médicos “raciológicos” e as teses do imigrantismo, do século XIX, que propunham branquear a “raça” miscigenada brasileira e trazer a civilização e o progresso para o país. Elevaram setores da sociedade à categoria de “povo paulista” – entre eles os descendentes dos bandeirantes, os primeiros fazendeiros de café e os imigrantes italianos (que até os anos 30 eram discriminados). Rebaixaram os indivíduos que não eram de São Paulo, como os migrantes nordestinos e nortistas do país. Sem que se perceba, a cidade carrega viva a memória do levante e da construção da sua identidade, em suas estradas e ruas com nomes dos Bandeirantes, Avenida 9 de julho e 23 de maio, além de monumentos como o Obelisco do Ibirapuera. Não possui avenidas ou ruas com o nome de Getúlio Vargas. A memória da “Guerra Paulista” continua em luta, apesar de muito discutida e pesquisada, necessita ser mais problematizada, pois é considerada tema extremamente controverso na historiografia brasileira. Nota do Editor: Rosana Schwartz é professora de comunicação integrada. Doutora em História, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP (2007). Professora Pesquisadora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, desde 1999. Graduação em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo e Publicidade e Propaganda.
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