Advogado recém-formado, Lineu Filho, ganhou do pai um belíssimo escritório montado no melhor centro comercial da cidade. Início de carreira e sem qualquer cliente, mesmo assim, Lineu Filho fazia questão de manter uma aparência e uma rotina laboral exemplar. Não atrasava nenhum dos seus horários e passava o dia no escritório sem nada para fazer. Muitas vezes debruçado na janela, passava o tempo vendo o movimento da rua. E foi graças às suas vigílias na janela que certo dia viu seu pai chegando ao centro comercial. Com certeza queria fazer uma surpresa para o filho. "Ele terá uma grata surpresa" pensou Lineu Filho. A porta entreaberta convidou Lineu pai a ir entrando até chegar na sala do filho recém-rubinizado e encontrá-lo ao telefone afundado no meio de inúmeras pastas. Sem interromper a conversa, Lineu Filho fez sinal ao pai para que se acomodasse indicando a poltrona. Acomodado, o pai, inevitavelmente, passou a acompanhar a conversa: - Por favor, Dr. Antonio, o senhor tem que me entender, no momento estou sendo muito solicitado e não posso me comprometer com o seu caso. Ao ouvir isso, Lineu pai sentiu-se gratificado. Mesmo recém-formado o filho já aparentava ter muito trabalho, e continuou a acompanhar a conversa do filho, até serem interrompidos com a entrada de um rapaz com uma maleta na mão. Lineu filho sentiu-se realizado, era a primeira pessoa estranha que entrava no escritório e justo no dia da visita do seu pai. E sem interromper sua conversa ao telefone fez sinal para que o rapaz aguardasse. - Eu também não entendo Dr. Antonio, como em tão pouco tempo de formado consegui tantos clientes. Justificava-se Lineu Filho olhando para o pai orgulhoso. O rapaz da maleta demonstrou certa impaciência e Lineu Filho fez-lhe sinal para que sentasse e continuar aguardando enquanto ele continuava a se gabar ao telefone: - Deve ser a confiança que o sobrenome carrega e que eu tive a felicidade de herdar. Arrematou Lineu Filho com uma piscadela para o pai. - "Ficamos assim então Dr. Antonio, se o colega que eu lhe indiquei não puder lhe atender o Sr. volta a falar comigo". Despediu-se desligando o telefone. - É o terceiro cliente que sou obrigado a dispensar esta semana. Estou impressionado com a boa repercussão do meu escritório. Gabou-se ao pai e fazendo-lhe sinal para que aguardasse dirigiu-se ao rapaz da maleta: - Pois não meu jovem, em que posso servi-lo? - Sou da telefônica... - Finalmente! Interrompeu apressado Lineu Filho. Com certeza você veio instalar as outras linhas que eu solicitei com urgência. - Não senhor. Respondeu o rapaz. Depois de uma semana de atraso eu vim ligar este telefone que está mudo na sua mesa.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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