Quem nunca ouviu a frase “bonzinho demais para ser verdade”, ela faz jus àquela pessoa que geralmente está em nosso círculo familiar ou de amigos que está sempre disposta a ajudar, que se esquece dos problemas pessoais para viver os seus. Esse comportamento possui o nome de “Síndrome do Mártir Descrito” e suas principais características são pessoas excessivamente bondosas, que abrem mão de algo muito importante para si e estão sempre envolvidas nos problemas do marido, filhos, família, amigos e até desconhecidos.

A Síndrome do Mártir Descrito é considerada uma ligação patológica com severos agravantes, pois o indivíduo na maioria das vezes anula–se, vivendo na inércia e renegando os seus problemas. Essa situação se dá pela conduta de sacrifício próprio, deixando seus afazeres de lado, para se sentir como vítima. Eles se percebem como vítima, mas não deles mesmos, e sim da outra pessoa. Ou seja, absorvem os problemas e conflitos dos outros, como se fossem realmente seus.

As pessoas com essa síndrome se consideram como mártires iguais aqueles que sofrem muito (daí o nome da síndrome), mas seu objetivo inconsciente é evitar o contato direto com seus próprios problemas evitando conflitos. Eles deixam as suas responsabilidades de lado, mas assumem a de terceiros, independentemente se eles pediram, ou não. Com isso, se isentam de ter que lidar com suas obrigações. Os portadores dessa síndrome sentem uma necessidade compulsiva de ajudar os outros, como se fosse um dever, ficando imensamente infelizes e incompletos quando têm que direcionar a ajuda a si mesmo. Os problemas dos outros, são a sua prioridade. E aí está o paradoxo: quando oferecem ajuda aos outros eles estão, inconscientemente, implorando ajuda a si próprios.

Acreditam que são um exemplo a ser seguido, e que sua conduta é uma virtude. Um modelo lustroso de poder e fortaleza. Veem–se como especiais por “colaborarem na assistência aos mais fracos.” Seu interesse para relacionar–se se dá apenas por pessoas que considerem difíceis de lidar e pessoas agressivas justamente, para poder moldá–las e “transformá–las em boas”. Há uma enorme necessidade obsessivo–compulsiva nesse sentido.

Por esse motivo, se casam com pessoas brutais e sem tolerância, mas o verdadeiro prazer sexual, não está na relação íntima estabelecida por eles, mas sim na mudança de atitude, que tentará imprimir no outro. Inconscientemente, eles escolhem as pessoas mais difíceis para tentar mudá–las. E a probabilidade de mudança torna–se praticamente impossível. Eles têm a convicção de que terceiros são responsáveis pelo sofrimento dos outros. Colocando–se de prontidão, para acabar com esse sofrimento, e com isso tornar–se mártir da vida dessa pessoa. Absorvendo inclusive a nomenclatura de vítima para si mesmo.

A origem dessa síndrome ainda é desconhecida, sendo um fenômeno neurótico extremamente complexo. Mas suas bases centram–se na infância. Em geral com relações confusas e conflituosas, nos papéis paternos e maternos. Usualmente mães mais determinadas e maridos ausentes ou mais passivos em relação ao cumprimento de seus papéis, encaixam–se mais facilmente na descrição do complexo de mártir.

Alguns sintomas:

• Tentam ocultar seus problemas.

• Oferecem todo tipo de ajuda.

• Tornam as pessoas dependentes deles como amigos, conselheiro e ouvidor, pois precisam sentir que possuem esse papel.

• Querem ser reconhecidos como heróis na vida dos outros.

Nota do Editor: Alexandre Bez é psicólogo e escritor.