As novidades no campo educacional não param de gerar surpresas. A cada momento surgem notícias de novas aquisições e combinações de negócios através da abertura de capital de grandes grupos. Para este ano, a expectativa do setor é alcançar fortes resultados, já que o número de calouros nas instituições que têm seus papéis negociados na Bolsa de Valores cresceu dois dígitos. Segundo reportagem publicada recentemente em um dos principais jornais econômicos do País, a expansão foi em grande parte motivada pelo Fies, programa de financiamento estudantil do governo federal, que somou 380 mil contratos firmados somente nos quatro primeiros meses do ano. Um dos grandes movimentos do mercado educacional neste início de ano foi a compra da Universidade São Judas Tadeu, uma escola tradicional, pela Anima. A instituição, que reunia 25,8 mil alunos e detinha um faturamento de R$ 182,8 milhões, com lucro operacional de R$ 32,2 milhões, cresceu 10,2% com o vestibular do início de 2014. O ticket médio por aluno representa R$ 955,00 muito diferente dos de outras empresas de ensino superior recém adquiridas pelos demais grupos, como é o caso da Anhanguera (cuja fusão como o Kroton está sob análise do Cade) com ticket médio de R$ 341,80. O valor de aquisição da São Judas foi de R$ 320 milhões, com valor por aluno atingindo R$ 12 mil. Mesmo tendo sido um valor considerado alto pelo mercado, ficou abaixo de outras transações recentes, como a compra da FMU pela Laureate (R$ 14,7 mil por aluno) e a Uniseb pela Estácio (R$ 16,2 mil). Se analisarmos a disponibilidade de recursos, o valor da marca e a reputação da São Judas, os recursos pagos foram adequados. Uma questão que a instituição terá que enfrentar agora é a ampliação da carteira de alunos. A estratégia normalmente aplicada pelas empresas compradoras é a redução do valor da mensalidade, aumento de alunos por sala e prática de faixas salariais mais baixas, o que, na maioria das vezes, compromete a qualidade de ensino por atender apenas os requisitos mínimos do MEC. A pressão por compras está sendo analisada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), mas, em muitos casos, a situação poderá ser irreversível mesmo que o órgão não aprove as transações. O processo tem que ser muito ágil para não permitir uma desestruturação do setor e a quebra de instituições de menor porte. A preocupação com a qualidade será o divisor de águas entre as instituições que buscam atender as necessidades do público A e B, que deverão buscar o máximo de excelência na estrutura de ensino e professores qualificados (mestres e doutores), e as que buscam os públicos C e D, cujo objetivo é a massificação de alunos dentro de uma estrutura que permita um ticket médio mais baixo. Duas instituições estão na nova mira e, certamente, atraindo grupos de investidores nacionais e estrangeiros: Universidade Paulista – UNIP e Uninove. Esse cortejamento poderá gerar nova reviravolta no mercado, já que a primeira conta com cerca de 200 mil alunos e a segunda, algo em torno de 100 mil. Os valores, conforme o fluxo de caixa e o endividamento, poderão girar em torno de R$ 1,4 bi (Uninove) e R$ 2,8 bi (UNIP), apurados de acordo com a média dos últimos negócios efetuados, independentemente do ticket médio atual e da inadimplência. Novas surpresas virão e na linha de tiro as pequenas e médias poderão se tornar bons negócios para investidores. Existem ainda várias instituições com dificuldade de caixa que poderão estar disponíveis para venda. Como a análise de compra considera o número de alunos matriculados, muitas delas estão buscando maximizar suas inscrições para conseguir a oportunidade mais adequada. A competição no mercado é significativamente grande e o risco é que haja monopólio e no futuro os preços das mensalidades customizadas (mais baixas) subam em virtude da baixa concorrência. A infelicidade é que para muitos estudantes o ensino virou mercadoria. Entretanto, a educação está muito distante do poder de mercantilização e o importante é o aprendizado, a melhoria da cultura e a perspectiva de sucesso profissional. Nota do Editor: Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina – FASM.
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