Grandes cidades como São Paulo estão cada vez mais lotadas de carros e privilegiando os automóveis, deixando a convivência entre os pedestres no espaço público cada vez menor. A culpa não é dos motorizados, mas de toda a estrutura das cidades que convertem espaços que poderiam ser úteis para os pedestres em verdadeiros estacionamentos a céu aberto. Mas esse cenário está mudando. O diálogo com a sociedade sobre os modos de fazer e usar a cidade se dá através das chamadas Zonas Verdes, espaços inspirados nos “parklets” criados em São Francisco, nos Estados Unidos, que surgiram como forma de converter o espaço de estacionamento de automóvel na via pública – a famosa Zona Azul de São Paulo – em área recreativa temporária. O objetivo central do projeto é instalar áreas de lazer e convívio para a população em espaços anteriormente ocupados por carros, em determinadas ruas, bairros ou cidades. Tomando São Paulo como exemplo, a cidade possui 37 mil vagas de zonas azuis e o número de automóveis registrados no Detran-SP superam a casa dos 7 milhões de unidades, com atualmente cerca de 1.500 carros zeros incorporados diariamente na frota circulante. Porém, segundo pesquisa feita pelo Instituto Ipespe, especialmente para o livro “Como Viver em São Paulo Sem Carro”, 57% dos paulistanos entrevistados deixaram nos últimos anos de usar o automóvel como principal forma de locomoção – 19% abandonaram totalmente o carro e 38% restringiram seu uso aos finais de semana. A mudança se reflete no aumento dos usuários de Metrô e trem: entre 2009 e 2012, o sistema ganhou mais 1,2 milhão de pessoas por dia. A mobilidade urbana agradece. Com mais pessoas usando o metrô, temos mais pedestres nas ruas e com isso precisamos instalar nas cidades como São Paulo as zonas verdes como forma de interagir os cidadãos, trazer as pessoas para o espaço público lado a lado ao carro. Mas em uma cidade com o trânsito já caótico, por que tirar um espaço reservado para o automóvel para colocar uma área de lazer? Pela convivência e lazer. As pessoas que abandonaram o carro mas usam bicicletas podem estacioná-las no parklet. Também se beneficiam da zona verde o comércio, trabalhadores e moradores da região. O parklet serve para o desenvolvimento de atividades que possam debater a importância da criação de áreas de refúgio para o pedestre, acessibilidade, mobilidade urbana e que estimulem o descanso, a leitura e a interatividade. O investimento necessário para essa democratização do espaço urbano é pequeno. É possível instalar um parklet na área equivalente a duas vagas de estacionamento e o seu uso é amplo. Em São Paulo, a Vitacon já patrocinou dois parklets temporários com uma série de atividades e agora mais uma vez pensa na cidade com a inauguração de um novo nos Jardins, ao lado da Av. Paulista. A aceitação do público – pedestres e mesmo motoristas – é alta. A cidade aprova um espaço de debate da mobilidade urbana e espaço para os pedestres. Objetivos A instalação desses espaços é temporária. Ainda que a zona verde seja positiva para a convivência entre os cidadãos e maior mobilidade urbana na sociedade, os parklets criados em São Paulo até hoje só podem ser mantidos por pouco mais de um mês. Isso não é o ideal. As cidades precisam rediscutir a forma de ocupação do espaço urbano e esse debate muitas vezes gera ruídos entre diversos setores da sociedade. O caráter temporário do parklet serviu para esse propósito, mas está na hora de tornarmos esse espaço fixo e definitivo. As zonas verdes e a reinvenção do espaço público reuniram informações e debates suficientes para criação de políticas públicas que favoreçam a criação de espaços permanentes para os pedestres. Acredito que essas novas áreas devem instigar a sociedade, causar ações e reações que mudem o status quo do automóvel. Com as zonas verdes fixas, vamos dialogar com o poder público sobre as condições dos espaços urbanos; vamos tornar as ruas mais seguras e humanas; discutir o papel da cidade para os pedestres. Os parklets são, afinal, um canal para descobrir qual a maneira mais adequada de transformar a cidade em um espaço mais amigável, menos frio. Com mais conversa entre as pessoas, mais sutilezas e maior troca de convivência, cidades como São Paulo se tornarão mais adequadas e aptas para uma vida mais confortável e menos caótica como a que vivemos hoje. Nota do Editor: Alexandre Lafer Frankel é CEO da Vitacon Incorporadora e Construtora e idealizador da série de livros “Como viver em São Paulo sem carro”.
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