Por incrível que possa parecer o abutre é da mesma família dos falcões. Segundo o meu amigo Aurélio, é uma ave falconiforme da família dos vulturídeos, típica do velho mundo, são sarcófagas em sua maioria. Outro dia recebi um grupo de noruegueses observadores de pássaros, ficaram admirados com o nosso urubu, eles nunca tinham visto um antes e perdemos um longo tempo literalmente urubuservando. Eles, os noruegueses, queriam saber tudo sobre a ave. Ficaram maravilhados ao saberem que foi a nossa primeira espécie protegida por lei e que isso foi no começo do século passado. Foi difícil explicar que tal lei foi num arroubo sanitarista e não um arroubo ecologista. Temos, em Ubatuba, dois tipos de urubus: o comum que é o Coragypis atratus, vive próximo das cidades, pois sobrevive consorciado à atividade humana; e o mais difícil de se ver que é o Cathartes aura, os dois são da família dos Cathartidae. Parentes do condor e um tanto distante dos falcões ou dos abutres. Mais uma curiosidade, os noruegueses têm uma renda per capita de fazer inveja a qualquer país do primeiro mundo e cultuam o pão-durismo muito mais do que Tio Patinhas pode imaginar. Para eles, contar vantagem é dizer o quanto deixaram de gastar nas viagens que fazem pelo mundo todo. Mas, voltemos aos abutres. O próprio Aurélio reconhece que o abutre é erroneamente confundido com o urubu, acho eu que é um arroubo hollywoodiano. Todos nós lembramos daqueles desenhos animados em que os abutres ficam acompanhando as pessoas e torcendo para que morram no deserto inclemente. Quando estão bem alimentados permanecem pousados quietinhos no mesmo lugar, sem importunar ninguém. É um bicho interessante o abutre do velho mundo. Avis rara em Ubatuba não se mistura com a nossa espécie e se incomoda profundamente quando invadem o território que delimitou como seu. Um arroubo patrimonial sem fundamento legal. Mesmo assim, faz questão de registrar seus arroubos gritando que há roubos nos quintais que não manda mais.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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