O período de premiações dos melhores filmes do ano começou e eis que surge uma avalanche de analistas e sabichões. Acreditam saber o exato perfil do filme que deve vencer a categoria de Melhor Produção do Ano no Oscar. Analisam o número de indicações e, para muitos, aquele que tiver maior quantidade será o favorito. Há os que pensam em prêmios pela carreira (não confundam com os prêmios especiais) e outros que acompanham premiações de outras associações, sindicatos e academias. Assim, cabe a pergunta: Qual é a importância de se adivinhar os ganhadores dos prêmios? Seria melhor crítico aquele que adivinha os vencedores? Ou seriam estes críticos aquilo que chamamos de estraga-prazeres? O Oscar, assim como outros prêmios, vem carregado de certa expectativa e, a cada prêmio que percebemos já ter sido indicado por algum crítico, há uma sensação anticlimática que se apodera de nós. Vejamos alguns indicados ao Oscar: Considerado favorito por vários críticos, “12 anos de escravidão”, de Steve McQueen, nada mais é do que um bom filme convencional, com boas interpretações e um bom roteiro. Recebeu nove indicações, então muitos já o colocam como um dos mais cotados. O tema do filme é duro – a escravidão e o horror entre os homens –, mas ganhar devido à temática abordada não basta. Sim, é um filme que trabalha de forma crua os horrores da escravatura americana. Sim, recebeu alguns prêmios, mas não significa que será o vencedor. Ano passado, “Lincoln”, de Spielberg, era o favorito, com doze indicações. Apenas ganhou duas. É uma coincidência interessante mencionar que o tema deste “Lincoln” foi a luta do presidente americano em aprovar a emenda que libertava os escravos. “Trapaça”, de David O. Russell, e “Gravidade”, de Alfonso Cuarón, estão com dez indicações cada. Quando saíram as indicações, esta indicação a mais que “12 anos...” fez deles mais favoritos. Isso seria verdade? Concorda que a análise torna-se pobre? Não esqueça que “Argo” tinha sete indicações e foi o grande vencedor no ano passado, assim como outros no passado. O estilo de “Trapaça” lembra muito o de “O golpe de mestre”, de George Roy Hill, vencedor de sete prêmios em 1974. “Gravidade” é um caso ainda mais raro, pois trata-se de um filme de ficção científica, mas que supera o gênero e se torna extremamente realista ao utilizar os recursos de 3D e inserir o espectador nos acontecimentos narrados. Tecnicamente, nenhum filme até hoje ganhou o Oscar de Melhor Produção sendo uma ficção científica. “E.T. – o extraterrestre”, novamente de Spielberg, chegou muito perto, ganhando vários prêmios, assim como “Star Wars – uma nova esperança”, que ganhou sete prêmios, mas nenhum foi o melhor filme do ano. Tudo dependerá da percepção pessoal de cada um dos integrantes da Academia. De repente, resolvem apoiar um filme ousado como “O lobo de Wall Street”, de Scorsese, assim como apoiaram filmes como “Perdidos na noite”, de John Schlesinger. Este ano há filmes de grande qualidade no Oscar, qualquer um pode ganhar. Ninguém sobressai apenas em algumas categorias, como melhor ator ou melhores efeitos visuais. Alguns sabichões podem até acertar, mas que graça tem? Nota do Editor: Hugo Harris é cineasta e jornalista, mestre em Comunicação, professor do curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie (mackenzie.br).
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