Recorrentes nos últimos anos, as falhas no sistema elétrico de nosso país se tornam ainda mais constantes durante o verão. Como em tantas outras vezes, o aumento no consumo de energia elétrica ou fatos isolados, como problemas provocados por chuvas e ventos fortes, são apontados como causas. Mas por que o sistema elétrico fica tão refém de falhas pontuais? Por que tantos apagões afetam nossa população? Especialmente na Região Nordeste, onde várias usinas eólicas erguidas não foram sequer colocadas em atividade por falta de linhas de transmissão e subestações, a impressão que temos é de que, quando chove, falta luz! Quando venta, falta luz! Quando cai uma árvore, falta luz! Mas a população não pode ficar refém dessas intempéries, já que paga muitos impostos e uma conta de energia para a qual é repassado qualquer gasto extra que o Governo tenha com o sistema energético, como as ativações emergenciais de usinas térmicas, motivadas, justamente, pela falta de um sistema bem planejado. Mas é claro que os problemas no fornecimento de energia não são exclusivos do Nordeste. No Centro-Oeste, também faltam investimentos tanto na manutenção da rede quanto na ampliação do sistema de distribuição. Na zona rural, por exemplo, os produtores de leite sofreram recentemente um grande prejuízo, já que a falta de energia impossibilitou o resfriamento do líquido e milhares de litros tiveram de ser jogados fora. O motivo alegado pelos órgãos também foi um já bastante conhecido pelo cidadão: a grande quantidade de chuvas fortes. E o Sudeste, região mais rica do país, também sofre com os imprevistos do setor. De acordo com o limite estimado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), as residências do estado do Rio de Janeiro poderiam ficar, cada uma, até nove horas sem energia durante o ano de 2013. Porém, ficaram um total de 15 horas – ou seja, um número quase 70% superior ao esperado –, com muita gente sofrendo danos materiais. Em algumas cidades da Região Sul, também faltaram água e luz, muito por conta da alta quantidade de turistas que se descolaram para lá nesta época do ano. Boa parte deles, inclusive, acabou voltando mais cedo de suas viagens, segundo as autoridades locais. Enquanto os órgãos responsáveis alegam aumento no consumo, fatores como as falhas na manutenção de equipamentos, a incapacidade de finalizar construções de usinas e a falta de investimento em fontes previsíveis, como água e carvão, são ignorados. E são exatamente esses fatores que devem ser alvo de atenção das autoridades. Para agravar esse cenário, o Governo ainda corta a capacidade de investimento das transmissoras e distribuidoras de energia em eventos como o da publicação da MP 579, no 11 de setembro do setor elétrico brasileiro, ocorrido no ano de 2012. A falta de energia elétrica em nossos lares e indústrias é uma questão importantíssima e mudanças devem ser realizadas o mais rápido possível para que nosso sistema não entre em uma completa situação de caos. Nota do Editor: Mikio Kawai Jr. é economista pela FEA-USP (1995), mestre em economia pela Unicamp (1999 – dissertação sobre gestão de riscos) e Advanced Executive Management pela IESE Business School (Espanha, 2011). Iniciou a carreira no mercado financeiro em bancos de investimentos, tanto nacional como estrangeiro, migrou para o mercado de energia na sua gênese, em 1998, tendo trabalhado na CPFL Energia até 2004. Atuou como gerente de suprimento de energia na AES Brasil, gerente de operações na Openlink (Nova York e SP). Ocupa, desde 2008, o cargo de Diretor Executivo do Grupo Safira, companhia que atua na comercialização de energia, além de consultoria e prestação de serviços em representação de entidades no âmbito da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).
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