A ONU - Organização das Nações Unidas mantém um índice de avaliação dos países e das cidades. É o IDH índice de Desenvolvimento Humano. Através deste índice a ONU consegue determinar suas ações quando visam o desenvolvimento. Se for o caso do país suportar uma dívida, se é melhor destinar a fundo perdido ou se é o caso de uma mobilização maior. Entre os itens que compõe o índice está a cultura. Para encurtar a conversa, para simplificar, a cultura depende da memória. Basicamente a memória de um povo pode ser oral, iconográfica ou documental. Não precisamos de um tratado científico para concluir que infelizmente Ubatuba não tem a sua memória preservada. Basta olhar o centro da nossa cidade e a quantidade de prédios que teriam valor histórico substituídos por fachadas de alumínio. A quantidade de prédios históricos ocupados pela administração pública. Basta ver a qualidade dos nossos museus. Desde o ano passado iniciamos um movimento para o uso cultural do prédio a ser desocupado pelo Fórum. Com o apoio do Ubatuba Viva conseguimos que ele não fosse simplesmente entregue à Cetesb. A idéia continua sofrendo oposições sejam baseadas em argumentos que denotam má vontade, seja pela ignorância, seja pelo oportunismo de alguns dirigentes que insistem na instalação dos seus escritórios. O mais importante é que contamos com o apoio do Prefeito Eduardo César quanto a sua destinação cultural. Paralelo a isto, estamos trabalhando no levantamento de documentos que possam compor uma Casa da Cultura digna de Ubatuba. Por necessidade premente começamos os trabalhos na Ciretran de Ubatuba e o apoio do Dr Fausto, delegado titular da Polícia Civil foi decisivo na pesquisa de documentos de 1970 até 2000, os trabalhos estão-se finalizando. Em contato com o Dr Celso, presidente da OAB, conseguimos o apoio junto ao Judiciário quanto a levantamento dos processos que estão guardados em Jundiaí que datam anterior a 1700. Com empenho do Sr Benedito Claro da Rocha estamos resgatando boa parte da memória recente de Ubatuba o que tem nos norteado na busca de documentos. Contávamos com o apoio da Câmara de Vereadores e iniciamos contato para viabilizar o levantamento das atas e leis arquivadas desde 1740. Na busca de uma autorização para a catalogação dos documentos, e depois de expor as razões que me levavam àquela Casa, tive o seguinte diálogo: - A Câmara Municipal não tem História, a Câmara tem leis. - O senhor acha que as leis não fazem parte da História? Ainda argumentei. - Isso já foi feito, é só passar na secretaria que tem um CD com todas as leis desde 1900 e nada. - Essas já estão na Internet. Ainda insisti - O que me interessa são as atas e leis de 1700 e nada. - Se você quiser vai pedir para o Jairo. E encerrou a conversa. Tenho certeza que o faxineiro da Câmara não falaria isso e tenham a certeza que eu não estava falando com um faxineiro. Dizem que as paredes têm ouvidos. Mas na Câmara Municipal tem algumas portas que falam.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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