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Arte e Cultura
14/10/2013 - 06h00
A gamificação já começou no Facebook
Eline Kullock
 

A mudança das imagens do perfil do Facebook para fotos de quando éramos crianças, que está acontecendo esta semana, nos permite fazer, pelo menos, duas análises interessantes sobre o comportamento dos usuários.

A primeira é que ninguém coordenou esse “movimento”. Ele começou espontaneamente na rede social e todos aderiram. Não há uma campanha de marketing por trás dele, não há um produto, uma marca ou uma instituição. As pessoas foram mudando suas fotos, obviamente por causa do dia das crianças, e a coisa foi pegando.

Interessante notar essa coisa bem brasileira à qual muita gente aderiu. As fotos foram se tornando um atrativo e uma oportunidade de comentar a do amigo (ou mesmo a de um desconhecido – conhecido virtual) e surgiram vários comentários. A maioria deles caçoava, de maneira divertida, sobre as fotos, apontava se a pessoa tinha mudado muito ou pouco, fazia uma piada, mas não era depreciativa. Porque o brasileiro não tem esta cultura de agressão, de exclusão, de sacanear na frente do outro. O brasileiro faz isso por trás. Ou de forma genérica.

Vi um post muito engraçado, no qual as pessoas comentavam: “Botar uma foto de criança é fácil, quero ver colocar a foto do RG (carteira de identidade pros cariocas!)”. Outro dizia: “Estas fotos, todas em preto e branco, denunciam nossa idade”. Esses comentários eram uma brincadeira, inclusive, com quem postou a tal foto em preto e branco denunciando, sem querer, a geração à qual pertenciam.

A segunda análise é que vários desses comentários eram, na verdade, elogios. Isso dá a impressão de que estamos todos inseridos em um grande jogo. A regra era colocar uma foto antiga. Algum motivo especial? Não. Os elogios são uma forma de reconhecer que entramos na “brincadeira”. Fico imaginando como cada um escolheu sua foto: foi buscar do fundo do baú uma imagem engraçada, bem antiga. Teve até quem colocasse um espermatozoide fecundando um óvulo e dissesse: “Minha primeira foto”. Todos entraram no espírito da coisa.

Isso tem muito a ver com o conceito de gamificação. Gamificar é, no ambiente brasileiro, ainda mais fácil do que em outras culturas. O brasileiro está aberto à brincadeira, valoriza o ato de se divertir, se joga de cabeça quando aparece uma novidade lúdica e que não faz mal a ninguém. Então, criar o ambiente gamificado é fácil por aqui. Proponha uma brincadeira e todos entrarão na hora. “Quantas figuras você vê nesse desenho?”, “Qual o número que está faltando nessa sequência?”, são posts que vejo com frequência no Facebook. Todos comentam, brincam, opinam. Isso é naturalmente gostoso para o brasileiro.

O que quero dizer é que o processo de gamificação no Brasil pode funcionar mais rapidamente do que em outros países. Essa veia lúdica faz parte da nossa cultura, está entranhada em nosso espírito. Não acredito que todos os países tenham essa cultura tão à flor da pele. No Brasil (e em outros países latinos também) isso é essencial. Queremos brincar e conservamos um olhar infantil (no bom sentido) para a vida.

O que as empresas e escolas estão esperando para começar esta mudança? Já estamos prontos para a mudança de uma sociedade baseada em jogos e recompensas e a brincadeira das fotos no Facebook é só um exemplo disso. Talvez alguém ligado à antropologia ou à sociologia possa me ajudar a entender porquê o povo brasileiro é tão aberto à brincadeira, ao jogo no seu sentido mais ingênuo.

Já brincamos sem um feedback estruturado, sem passar de fases, sem ganhar prêmios. Imagina quando se estruturarem games com metas?! Eureka! Quem começar ganha um bombom! Vamos gamificar a vida?


Nota do Editor: Eline Kullock – Formada em administração de empresas pela FGV-RJ e MBA Executivo pela Coppead – UFRJ, Eline também é sócia, há 15 anos, da Stanton Chase Internacional, multinacional de executive search baseada em Londres. A profissional é também, há vários anos, pesquisadora de tendências do comportamento dos jovens e a influência dos videogames em sua atuação profissional, sendo considerada fonte de referência no assunto, especialmente quando se fala em “Geração Y”.

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