Dezenas de municípios brasileiros, cuja economia viveu por décadas em torno da indústria, amargaram uma grave crise a partir dos anos 90, por conta da globalização e da abertura sem controle a uma concorrência desleal com produtos importados.

À custa de grandes esforços, muitas cidades encontraram novas vocações, transformando-se em centros de prestação de serviços, investindo no turismo ou em eventos. O caso de Guarulhos é interessante: o município conseguiu manter uma boa base industrial, atraiu novas empresas - por exemplo, nas áreas química e farmacêutica - e transformou-se em um pólo importante de logística.

Mas um novo ciclo de desenvolvimento descortina-se para a cidade e toda a ligação Norte com São Paulo, com reflexos na Zona Leste, graças à parceria assinada recentemente entre a Prefeitura de Guarulhos, o Governo Federal, por meio da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) e o Governo do Estado, através da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que prevê a construção de uma linha ferroviária exclusiva. Com o nome de Expresso Aeroporto, a linha vai interligar o Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, possivelmente à região da Luz - e ao Metrô -, na capital paulista.

A previsão é de que o novo trem cumpra os cerca de 31 quilômetros de distância em 20 minutos, com serviço de check in nas próprias estações, atendendo a uma demanda de 55 mil pessoas por dia. Dessa maneira, haverá maior fluidez no deslocamento dos usuários e das mercadorias, gerando uma economia enorme de tempo e dinheiro. Para ter uma idéia do que isso representa, em 2004 passaram pelo Aeroporto cerca de 13 milhões de passageiros e o movimento total de cargas foi superior a 410 mil toneladas.

Também faz parte do projeto o Trem Metropolitano de Guarulhos, que fará a ligação do Parque Cecap, na região do aeroporto, à estação ferroviária do Brás, na Zona Leste da capital. Este sistema será integrado às outras linhas da CPTM e do metrô, com parada na Estação USP Leste e conexão com a Linha F (Brás-Calmon Viana).

Com estimativa de transportar 180 mil passageiros por dia, o Trem de Guarulhos usará a mesma via do Expresso Aeroporto. Por isso, as viagens, com duração aproximada de 15 minutos, ocorrerão em intervalos intercalados.

O custo dessas duas obras é de cerca de US$ 200 milhões. Justamente devido aos valores envolvidos, o projeto abre a possibilidade da participação da iniciativa privada por meio das PPPs (Parcerias Público-Privadas).

O volume das obras já representa, por si só, um importante elemento indutor do desenvolvimento. Mas estamos falando de algo muito maior, devido ao previsível aumento da rede de serviços (e, claro, da geração de empregos) e à agilização logística na ligação Norte entre Guarulhos e São Paulo, hoje um sério gargalo para o escoamento de pessoas e mercadorias.

Segundo município do Estado em número de habitantes (1.218.862, pela estimativa de 2004 do IBGE) e o terceiro em arrecadação (previsão de R$ 1,19 bilhão para este ano), Guarulhos tem uma taxa de crescimento populacional de 2,46% ao ano. Com um potencial de consumo de US$ 2,2 bilhões ao ano, a região conta com 12 mil estabelecimentos comerciais, duas mil indústrias e quase 40 mil empresas de prestação de serviços.

Somam-se a esses números os expressivos índices de criação de postos de trabalho. Levantamento recente do Ministério do Trabalho aponta a cidade como o quarto município em abertura de novas vagas no Estado, com cerca de 15 mil postos gerados em 2004, principalmente nos segmentos farmacêutico, metalúrgico e de materiais de transporte.

A parceria inédita que visa a construção do Expresso Aeroporto e do Trem Metropolitano de Guarulhos, unindo os esforços dos Governos Federal, Estadual, Municipal e da iniciativa privada, poderá, então, consolidar o eixo Norte como um dos grandes pólos de desenvolvimento do País. Ganham todos e, principalmente, quem mora ou trabalha em Guarulhos e nas regiões Norte e Leste da capital, que verá afastado o fantasma da desindustrialização.

Nota do Editor: Elói Pietá, advogado, é prefeito de Guarulhos (PT).