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COLUNISTA
Carlos Rizzo
09/03/2005 - 09h02
O tic-tac da Comtur
 
 

Era assim. De repente ele descobria que podia estar atrasado para algum outro compromisso. Olhava para o relógio, um Omega original em ouro, dava duas ou três batidinhas com o dedo indicador e reclamava:

- Sei não, mas acho que este meu relógio começou a dar problemas, depois de muitos anos funcionando perfeitamente. Que horas são no seu relógio?

A gente dizia as horas, ele acertava os ponteiros, e se despedia alegando estar atrasado.

Foi assim durante alguns anos, até que descobri que o relógio dele, apesar de ser um Omega original em ouro, jamais funcionava. Ele fazia toda a cena para saber as horas e sem ter que explicar por que andava com aquele relógio que ele sabia que nunca funcionava.

Dizem que certa vez alguém perguntou ao Albert Einstein o que ele achava melhor: um relógio parado ou um relógio que atrasava um minuto por dia. Sem titubear Einstein respondeu que preferia o relógio parado, e explicou: "um relógio que atrasa um minuto por dia me dá a hora certa hoje e somente depois de 1440 dias terei a hora exata novamente. Um relógio parado me dará a hora exata duas vezes ao dia".

Lembrei-me dessas histórias depois que li em algum lugar que algum acionista minoritário, contra a extinção da Comtur, usou de uma analogia do marido que flagra a esposa traindo-o no sofá da sala e para resolver a questão põe fogo no sofá.

Já que se comparou a Comtur nesse nível, não tem problema comparar com as histórias dos relógios. A Comtur nunca acertou os seus ponteiros, quando descambou a atrasar o seu um minuto por dia nada do que se fizer representará incremento ao turismo local. Afundada em dívidas do jeito que está, tudo o que ela faz se assemelha ao pai que, para comprar um playstation para o filho tem que vender o único televisor da casa.

Apesar de ser fraco em contabilidade, algumas contas eu sei fazer. Para mim quando um carro começa a gastar no mecânico mais do que uma prestação de um carro novo está mais do que na hora de trocar de carro.


Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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